Sistema de Representação para Representantes Comerciais

A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda

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Em prova oral do curso de medicina, o professor pergunta: Quantos rins nós temos?
Quatro! Responde o aluno.
Quatro? Replica o professor, arrogante, debochando do aluno: Traga um feixe de capim! Ordena a um auxiliar.
E para mim um cafezinho, diz o aluno...
O professor, ofendido, expulsou-o da sala.
O aluno era, entretanto, o famoso humorista brasileiro Aparício Torelly, mais conhecido como o "Barão de Itararé".  - Ao sair da sala, teve ainda a suprema audácia de corrigir o furioso mestre: O senhor me perguntou quantos rins "nós" temos. "Nós" temos quatro: - Dois meus e dois seus; tenha um bom apetite!

Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, nasceu no interior de uma diligência, no Estado do Rio Grande do Sul, em um local próximo à fronteira com o Uruguai, no dia 29 de janeiro de 1895.. Era filho de "brasileiro e índia charrua uruguaia, neto de americano e descendente de russos". Aos 14 anos lança seu primeiro jornal, "Capim Seco". Em 1918, abandona o curso de medicina e vira articulista de "O Globo" e posteriormente do "Correio da Manhã". Em 1926, funda o jornal "A Manha", "um órgão de ataques...de risos", no qual cria personagens com os sisudos políticos da República Velha. Em 1929 " A Manha" circula como encarte semanal do jornal "O Diário da Noite", por 4 meses. O jornal, do conhecido Assis Chateaubriand, na primeira semana dobra a tiragem, vendendo 15.000 exemplares, até atingir a marca de 125.000 exemplares na data da publicação do programa da Aliança Liberal. 

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Sempre irreverente, em 1930, com a revolução, o autor proclama-se " Duque de Itararé", herói da batalha que não houve. Semanas depois, rebaixa-se a "BARÃO de Itararé" como prova de modéstia. No dia 2 de setembro de 1932 é preso pela 4ª delegacia auxiliar (responsável pela ordem política e social), após "delirante atividade revolucionária" mantida nas páginas do jornal "A Manha" e constantes estocadas contra o governo instalado pela revolução. Farsista insuperável, trocava em miúdos temas graúdos:

"Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados."
"O problema do menor é o maior do Brasil"
"Pela estrada se conhece o Prefeito"

Em 1934, o Barão de ltararé abre o "Jornal do Povo". Durante dez dias, publica em capítulos a história do marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata de 1910 (pelo fim dos castigos corporais na Marinha). O Barão de ltararé é seqüestrado e espancado por oficiais nunca identificados. Uma das suas máximas é que, cansado de apanhar ao ser preso, inventou a famosa frase "Entre sem bater", que acabou se tornando um corriqueiro lembrete de cortesia nas portas dos escritórios.

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Quando a violência da ditadura torna-se intolerável, às vezes uma das poucas armas de resistência popular é o humor. E disso entendia muito bem o jornalista Aparício Torelly, vereador eleito e cassado em 1947 pelo Partido Comunista, para enfrentar tanto a polícia secreta do Estado Novo, como a democracia pós-45 que colocou seu partido na ilegalidade. 
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Getúlio Vargas, cujo governo o prendeu e perseguiu, mostrava afeição pelo Barão. Um exemplo do bom-humor de ambos foi seu reencontro no Senado, naquele mesmo ano de 1945, quando Getúlio, eleito senador, reconheceu o Barão do Itararé: 

Vargas, ao vê-lo entre os jornalistas, disse: "Até tu, Barão?" 

Resposta imediata: - "Tubarão é o senhor, eu sou o Barão de Itararé."

Um de seus principais lemas de campanha era: - "Mais água e mais leite. Mas menos água no leite". - "O PCB tinha a maior bancada e o Barão com seu espírito não só fez a Câmara rir, como as lavadeiras, os trabalhadores. As favelas suspendiam as novelas para ouvir as sessões da Câmara, que eram transmitidas pelo rádio. Assim, os debates que sustentou com a bancada conservadora, comandada por Adauto Lúcio Cardoso e onde se destacava o compositor Ary Barroso, ficaram famosos e registrados nos anais desta Casa de Leis. 

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Após a cassação de seu mandato, em fins de 1947, quando declarou que saía da vida pública para entrar na privada, o Barão continuou sua luta no jornal A Manha. Em seus últimos anos de vida, depois de 1964, dedicou-se a estudos matemáticos, à numerologia e desenvolveu o que chamou de
"horóscopos biônicos" e "quadrados mágicos". Morreu em 27 de novembro de 1971, aos 76 anos, em seu apartamento em Laranjeiras.
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anedota contada pelo barão do itararé:

A origem do símbolo "Cr$" - A instituição do cruzeiro como moeda nacional, em substituição ao mil réis, não é coisa velha. Verificou-se durante a Segunda Grande Guerra, quando governava o Brasil o sr. Getúlio Vargas. Tudo correu fácil. A reforma monetária já fora estudada no tempo do sr. Washington Luís e o decreto da mudança da moeda de há muito estava pronto para ser assinado. Só faltava um detalhe: - qual seria a abreviação do "cruzeiro" a ser usada na escrituração mercantil? 
Os técnicos das finanças reuniram-se com o ministro da Fazenda, o diretor do Tesouro, o presidente do Banco do Brasil e o chefe da Casa da Moeda. 
Depois de duas horas de extenuantes e exaltadas discussões, ficou decidido que, como estávamos empenhados numa guerra que passaria para a História, nada mais justo que escolhessemos para a nossa nova moeda um símbolo que perpetuasse uma homenagem aos nossos aliados, Inglaterra, Estados Unidos e Rússia. 
E, assim, resolveu-se por unanimidade que a abreviação oficial do cruzeiro fosse integrada pelas iniciais dos três bigs do momento, que eram Churchill, Roosevelt e Stalin, isto é, CRS. 
A grande comissão de técnicos foi, então, incorporada, à presença do sr. Getúlio Vargas, para cientificá-lo do resultado a que tinham chegado. O presidente concordou com tudo, muito satisfeito, mas, no momento em que foi assinar o decreto da regulamentação da nova moeda, riscou, à última hora, a inicial de Stalin.

Por isso, a abreviação do cruzeiro apareceu e continua a aparecer assim: CR$...

Máximas e Mínimas do Barão de Itararé: 

O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato. 
De onde menos se espera, daí é que não sai nada. 
O feio da eleição é se perder. 
Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades. 
Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância. 
A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele. 
Que faz o peixe, afinal?... Nada. 
Quem empresta, adeus... 
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro. 
Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos. 
A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana. 
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato. 
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo. 
Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo. 
Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados. 
Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. 
Mulher moderna calça as botas e bota as calças. 
A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

Oráculo ambíguo:

Na antiga Grécia havia um célebre oráculo, que respondia com segurança a todas as perguntas que se lhe fizessem sobre o futuro, que para nós hoje já é passado. Um pai aflito, um dia, perguntou ao oráculo se o seu filho, que devia partir para a guerra, regressaria são e salvo.
O oráculo respondeu por escrito: - "irá virá nunca morrerá nas armas".
O pai ficou satisfeitíssimo com a resposta. Mas a sua alegria não durou muito tempo. Logo depois de dois meses recebeu a dolorosa notícia da morte do filho em combate. Desesperado, foi ao oráculo, a fim de reclamar contra o engano da profecia. O oráculo lamentou muito o que havia sucedido, mas fez ver ao velho pai que nada tinha a corrigir. A sua profecia estava certa e havia se cumprido. 
O que ele respondera era o seguinte: - "Irá. Virá nunca. Morrerá nas armas".

Almanhaque d'A Manha - Primeiro Semestre, produzido por Apparício Torelly, o Barão de Itararé (1895-1971).

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