O
novo perfil dos "compradores" no varejo
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Por
Cláudia Facchini De São Paulo
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www.valoreconomico.com.br
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Foto:
Rogerio Pallatta/Cia de Foto/Valor
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Sérgio
Nóia, diretor de comercialização do Grupo Pão de Açúcar,
voltou à sala de aula, terminou o curso de administração e
agora faz o MBA na companhia.
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O
cargo de comprador
no varejo
está se sofisticando, à medida que as cadeias ficam cada vez mais
musculosas e poderosas perante seus fornecedores. De acordo com uma
pesquisa encomendada pela revista "Supermercado
Moderno"
ao
Hay Group
, uma das maiores consultorias especializadas em RH do mundo, a função
de comprador é a que registra um dos maiores aumentos de salários
no setor, com uma valorização de 40,5% em 2003.
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Enquanto
o comprador
significa lucro "só
vende bem quem compra bem",
o responsável
pelos estoques,
ao contrário, significa custos. Os gerentes de armazenagem vêm
perdendo importância na mesma proporção que as varejistas
preocupam-se em manter níveis cada vez mais baixos de mercadorias
em estoque. A concentração no varejo é um fenômeno recente.
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Ela
só se intensificou a partir de meados dos anos 90, com o fim da
indexação da economia, que corrigia automaticamente o valor dos
estoques pela inflação, e da ciranda financeira. As varejistas
tiveram de aprender a ganhar dinheiro com mais eficiência
operacional. Os setores industriais, ao contrário, sempre foram
mais organizados e oligopolistas. A exemplo da Nestlé
ou da Unilever,
os fornecedores do varejo possuem uma longa história de
conhecimento, e, portanto, de desenvolvimento de técnicas
negociais, de como vender bem os seus produtos para o varejo e o
consumidor final.
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"Há
três anos, fomos buscar, tanto no Brasil como lá fora, um programa
com técnicas de negociação específicas para o varejo. Para nossa
surpresa, descobrimos que não havia nenhum. Todos os que existiam
eram voltados para a indústria",
afirma Maria Aparecida Fonseca, diretora de recursos humanos da
Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), ou grupo
Pão de Açúcar. A companhia, que controla as bandeiras Extra, Pão
de Açúcar e Comprebem Barateiro, decidiu então criar o seu próprio
programa com técnicas de compra, batizado de "Jeito CBD de
negociar". Para as indústrias, certamente, significaria o
jeito CBD de apertar os fornecedores.
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Na
varejista, os compradores
hoje sabem matemática financeira, para analisar os prazos de
pagamento, perscrutam os balanços de seus fornecedores, acompanham
a participação de mercado de cada um deles, conhecem os processos
de produção e sabem quais os segmentos em que há oligopólios ou
monopólios. Comprar transformou-se em uma atividade muito mais
complexa do que era antes.
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"Os
compradores entram bem preparados em uma negociação".
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A
qualificação dos profissionais que ocupam essa função no varejo,
consequentemente, também ficou mais elevada. Foi-se o tempo em que
o comprador
não precisava ter um curso universitário.
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Nas
varejistas, os compradores agora têm pós-graduação e MBA.
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Sérgio
Nóia,
diretor de comercialização do grupo Pão de Açúcar, aos 43 anos,
personifica a transformação por que passou o varejo. Ele também
é um exemplo dos investimentos feitos atualmente nos profissionais
que desempenham a função. Nóia responde hoje pela compra de
alimentos e produtos de higiene pessoal do grupo Pão de Açúcar, a
maior rede de supermercados do país, com um faturamento bruto de R$
12,8 bilhões em 2003. Por suas mãos, passam cerca de 28% das
aquisições feitas pela varejista.
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Nóia
começou cedo a trabalhar em uma grande cadeia de supermercados. Os
horários no varejo são sabidamente ingratos. As lojas funcionam
dia e noite, fins de semana e feriados, não importa. Nóia conta
que, na época, não conseguiu completar a faculdade de administração.
No Pão de Açúcar, porém, ao assumir a diretoria de comercialização,
ele voltou à sala de aula, terminando o seu curso na FAAP. Neste
ano, ele faz parte da turma de executivos do Pão de Açúcar que
cursam um MBA específico para a companhia, criado pela Fundação
Getulio Vargas.