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Com
mais dinheiro se pode comprar mais felicidade?
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sala dos artigos de
reflexões
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A declaração de
independência dos EUA, estabeleceu em 1776 que as pessoas têm direito à
"busca da felicidade". Nossa sociedade anuncia que o dinheiro é a
panacéia que tentará a felicidade. O problema é que costumamos passar
por alto duas forças poderosas: "a adaptação e a comparação social", que
fazem difícil um aumento do bem-estar da sociedade baseado somente no
crescimento econômico. No documento de investigação: "Does More Money
Buy You More Happiness?" (Com mais dinheiro se pode comprar mais
felicidade?), os autores
Manel Baucells
do
IESE
Business School e
Rakesh K. Sarin
da
UCLA
Anderson School of Management, abordam por que, apesar dos avanços
econômicos, cada vez menos pessoas se sentem satisfeitas
(Artigo:
As quatro formas
de se comer a vida...).
Um exemplo: uma mulher
que conduz um velho carro em sua época de estudante se alegra ao
comprar-se um carro novo quando consegue seu primeiro trabalho. No
entanto, cedo se adapta ao novo carro e o assimila como parte de seu
estilo de vida. O mesmo poderia dizer-se de quem se acostuma a
passar suas férias anuais no estrangeiro. Este processo se chama
adaptação: a pessoa se esquece de que acabará adaptando-se a um
nível de vida mais alto à medida que vão aumentando seus
rendimentos. Quanto mais tem, mais quer...
A outra grande força, a
comparação social, empurra-nos a comparar-nos com nossos vizinhos mais
ricos. Quando se torna sócio de um clube ou se muda a um bairro mais
próspero, as comparações sociais se fazem com um grupo de semelhantes
mais abastados. Em vez de comparar-nos com nossos vizinhos mais pobres,
agora nos comparamos com os mais ricos, que têm um status e uma renda
similar. Conduzir um Toyota quando teus iguais conduzem um Lexus não é o
mesmo que ver que outros membros do grupo têm também carros econômicos.
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Os medalhistas olímpicos
também sofrem a comparação social. Comprovou-se que os atletas que
ganham a medalha de bronze são mais felizes que os que se levam a de
prata, porque os primeiros se comparam com quem não ganharam nenhuma
medalha, enquanto os segundos têm pesadelos por não ter conseguido a de
ouro. Quando as duas forças, a da adaptação e a da comparação social,
juntam-se, podem dar lugar (e assim costuma ocorrer) a uma profunda
insatisfação pessoal
(Artigo:
Há que se procurar um
amante).
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Este fenômeno se pôde
observar a escala mundial, em estudos de medição da felicidade
realizados em todos os países. Estas investigações mostram que os
habitantes dos países ricos são, em media, algo mais felizes do que os
dos países pobres. Incidem nisso questões políticas como a democracia, a
liberdade e os direitos individuais. Por exemplo:
A felicidade é
marcadamente inferior nos antigos países comunistas. Nos países
pobres, o progresso é necessário para solucionar a fome, a doença e
os problemas de moradia e, em alguns casos, o transtorno social
causado pela guerra e a violência. Mas a partir de um nível de renda
determinado, colocamos 80 mil reais ao ano, a felicidade não aumenta
significativamente por muito que o façam os rendimentos.
De fato, os indicadores do
grau de felicidade permaneceram intactos em todo mundo apesar de uns
aumentos da renda média consideráveis, um fenômeno conhecido como o
Paradoxo de Easterlin (Wikipédia).
O exemplo mais atraente é o Japão, onde apesar de que a renda per capita
real aumentou 5 vezes, praticamente não se incrementou a média do nível
de satisfação. Uma pauta parecida se observou nos EUA e a maioria dos
países desenvolvidos. Com tudo, não é uma tendência universal, já que em
alguns países (por exemplo, Itália ou Dinamarca), a sensação média de
bem-estar melhorou
(Artigo:
Como ser feliz em Vendas).
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O Paradoxo de Easterlin se
pode explicar pelo fato de que a felicidade depende também de outros
fatores além do dinheiro, como a estrutura genética, as relações
familiares, a comunidade e os amigos, a saúde, o trabalho (desemprego e
precariedade trabalhista), ambiente externo (liberdade, delinqüência,
etc.) e valores pessoais (visão da vida, religião e espiritualidade).
Sim, o poder aquisitivo influi na felicidade de uma pessoa, mas até
certo ponto. Nem que dizer tem que algumas pessoas com dinheiro se
torturam comparando-se com outras pessoas ainda mais ricas do que elas.
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Os autores sugerem que a
gente poderia sacar-lhe mais proveito a seu dinheiro em termos de
felicidade se calculasse corretamente o efeito da adaptação. Quando o
cálculo é errôneo, deve-se ao que os psicólogos denominam um "envieso de
projeção". Este conceito, aplicado às decisões de consumo, significa que
predizemos um ritmo lento de adaptação a um bem novo (projetamos para o
futuro nosso sob nível de adaptação atual).
De fato, a adaptação se
produz bem mais rapidamente do que esperávamos, o que nos leva a gastar
mais da conta em bens viciantes e ser menos felizes do que pensamos.
Em outras palavras, os
ricos costumam centrar-se mais em bens de adaptação que em produtos
básicos como a comida, a moradia, dormir, a amizade, as atividades
espirituais, etc. Os bens de adaptação são os carros e as casas de
luxo, bem como os hotéis caros.
Baucells e Sarin
demonstram que o envieso de projeção desvia recursos dos bens básicos
aos de adaptação, inclusive quando se planificam racionalmente. Até os
segmentos mais pobres da sociedade caem na armadilha de atribuir mais
dinheiro a produtos viciantes como o álcool, as drogas ou a loteria, que
a bens de primeira necessidade, como os alimentos nutritivos ou a
higiene. Precisa
muita disciplina para concentrar-se nos prazeres singelos, mas isso,
segundo os autores, é o que nos dá a felicidade. O dinheiro pode comprar
a felicidade, mas requer um planejamento ótimo para a qual a maioria das
pessoas não está preparada. Um exemplo:
Uma pessoa ganha um
milhão de dólares na loteria. Ao cabo de um ano deveria sentir-se
mais feliz, mas a investigação mostra que em realidade se sente mais
azarada. É mais, encontra que suas atividades diárias são menos
gratas que antes. Que passou? Por que a maioria da gente segue
crendo que ganhar um montão de dinheiro lhes fará mais felizes?
Se além de adaptar-se
paulatinamente a uma ascensão social e econômica de seu grupo, o
indivíduo de nosso exemplo planifica cuidadosamente seu consumo no tempo
(evita um súbito aumento imediato e projeta um crescimento regular do
mesmo durante os próximos 30 anos), seria mais feliz.
Vivemos num mundo em que
compramos alimentos demais quando temos fome, esquecemos comprar casaco
nos dias calorosos para quando refresca pela noite e cremos que se
vivêssemos em Califórnia seríamos felizes
(Artigo:
as Sete Leis espirituais).
Tendemos a obviar as
conseqüências da adaptação, a comparação social e o envieso de
projeção. Para ser verdadeiramente felizes, deveríamos apreciar bens
básicos como os alimentos, dormir ou a amizade, e não tanto os
substitutos materiais, por muito caros que sejam.
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Prof. Manel Baucells e Prof.
Rakesh K. Sarin
IESE -
Instituto de Estudos
Superiores da Empresa
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IESE - Instituto de
Estudos Superiores da Empresa é uma escola privada fundada em 1958.
O IESE Business School como é conhecido nos meios empresariais é a
escola de pós-gradução em Administração de Empresa da Universidade
de Navarra. Localizada no coração financeiro de Madri, o
iese
é uma das melhores Business Schools do Mundo (confirmado por the
Financial Times, The Economist, The Wall Street Journal, etc) sendo
classificada constantemente entre as 5 melhores da Europa e entre as
20 melhores do Mundo. Com um perfil essencialmente empreendedor,
criativo e inovador, o IESE atrai anualmente alunos do mais alto
nível, procedentes de mais de 65 países.
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Outros excelentes
artigos traduzidos e publicados pelo Jornal SDR, da
IESE
- Instituto de
Estudos Superiores da Empresa:
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