Apagando
o incêndio com fogo
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sala dos artigos de
liderança
5 de agosto de 1949,
um incêndio num remoto lugar de Montana se cobrou as vidas de 13
bombeiros. O líder da equipe se salvou graças à implementação
decisiva de uma idéia criativa: apagar o fogo com mais fogo. Uma
introdução à criatividade contextual em tempos de crises.
A divisão de bombeiros em
Montana recebeu o aviso de um incêndio florestal em Mann Gulch, um
território montanhoso inacessível por via terrestre. Para chegar à zona,
a divisão reuniu uma equipe de bombeiros pára-quedistas que não se
conheciam entre si e designou um líder. Em princípio, não tinha de que
preocupar-se. Os primeiros diagnósticos indicavam que se tratava de um
caso típico de incêndio. Seguramente, poderiam apagá-lo numa só noite,
com as ferramentas habituais e os procedimentos convencionais. Mas,
quando chegaram a área afetada, enfrentaram-se a uma situação
desesperadora. Fumaça asfixiante, ruídos ensurdecedores e temperaturas
infernais. A equipe se viu rodeada de chamas que avançavam velozmente
(Artigo:
É melhor você vir do NADA,
do que Nada vir de você).
•
Como salvar-se?:
nesse momento, o líder acendeu intencionalmente uma área de grama
seca. Depois, uma vez consumida a zona, ordenou: deixem suas
ferramentas e atirem-se sobre as cinzas. Mas nenhum obedeceu. Cada
um correu por sua vida. Dois bombeiros se lançaram a uma greta entre
as rochas e se salvaram. O líder, em seu círculo de cinzas, também
sobreviveu. O resto faleceu no incêndio.
•
Como compreender o
que ocorreu no tristemente célebre incêndio de Mann Gulch?
•
Por que o líder se
salvou enquanto outros morreram entre as chamas?
O prof. Karl Weick,
experiente em estudos organizacionais PHD em psicologia da Univ. de
Michigan, utiliza este exemplo para oferecer algumas lições de
criatividade em momentos críticos: a criatividade em contextos estáveis.
Ao princípio, os bombeiros tinham avaliado o incêndio como um caso
típico e se organizaram rapidamente em torno de um diagnóstico
compartilhado por todos. De maneira similar, em épocas estáveis, as
organizações funcionam em base ao conhecido e sua capacidade de prever
tendências a futuro
(Artigo:
EMPATIA É NECESSÁRIA NA
ADMINISTRAÇÃO COMERCIAL?).
.
Em situações normais, primam os canais de comunicação formais, rotinas,
planos estratégicos, padrões de comportamento habituais e procedimentos
preestabelecidos. Nestes contextos, a criatividade é estratégica. Sua
implementação requer tempo e se baseia na capacidade de identificar
tendências estáveis e perduráveis para desafiá-las e gerar propostas de
valor que provêem benefícios a médio e longo prazo.
•
A criatividade em situações
críticas:
segundo Weick, o caso do incêndio demonstra que, ante uma mudança
contundente e crítica, perde-se a possibilidade de prever além do
imediato. A estrutura formal perde relevância e se dilui o sentido
compartilhado da situação. Quando os bombeiros deixaram suas
ferramentas, também deixaram de ser um grupo e passaram a ser
indivíduos inconexões ante uma ameaça fatal. O único que lhes
restava, segundo sua percepção, era correr para salvar suas próprias
vidas.
.
•
Neste marco, é interessante
analisar o comportamento do líder:
a chave de sua sobrevivência foi sua capacidade de decidir
velozmente aplicando a criatividade contextual, isto é, o improviso
em base a seu conhecimento de campo, a identificação dos recursos
disponíveis e sua disposição e desafiar os procedimentos habituais.
.
•
A salvação da equipe estava
disponível:
se os bombeiros tivessem obedecido a ordem, Mann Gulch hoje só seria
um remoto e desconhecido lugar de Montana em vez de um lugar
tristemente célebre por um incêndio que consumiu as vidas de 13
pessoas. Não obstante, a falta de confiança básica e uma estrutura
formal de contenção, a equipe deixou de existir como tal, resultando
num final trágico
(Artigo:
Cuidado com os funcionários puxa-saco!).
•
Agora bem, como
desatar a criatividade em tempos de crises?
•
Que podem aprender
as organizações do incêndio de Mann Gulch?
O Prof. Karl Weick sugere
equipar-se de ferramentas e habilidades que fomentem a criatividade
contextual e provejam a flexibilidade necessária para sustentar a coesão
grupal. Vejamos alguns de seus conselhos:
•
Concentrar-se no
aqui e o agora, evitando trabalhar em "piloto automático"
•
Conhecer em
profundidade os recursos imediatamente disponíveis
•
Priorizar a
comunicação baseada na confiança, o vínculo informal, a
transparência, a honestidade e o respeito mútuo
•
Reconhecer,
respeitar e manejar as emoções suscitadas pela crise
•
Manter abertura
mental para modificar rotinas
•
Reconhecer que as
experiências anteriores só são parcialmente relevantes para
encontrar soluções aos desafios atuais
•
Arrecadar
informação e diagnosticar a situação constantemente e em tempo
real
•
Estimular a
confiança da equipe em sua habilidade para manejar-se fora da
rotina
•
Aumentar o nível
de atendimento na interação com os outros e com o meio
•
Pôr o conhecimento
de campo ao serviço da necessidade imediata e não ao contrário.
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Prof. Ari Sabbagh
e Prof. Matías Mackinlay Zapiola
Consultoria Ingouville, Nelson &
Associados
.
outros Excelentes
artigos traduzidos e publicados pelo Jornal SDR, da Consultoria
Ingouville, Nelson & Associados:
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Apagando o incêndio com fogo
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Lições do exército romano para enfrentar a crise
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O método SCAMPER e o poder criativo da pergunta
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Comentários impensados, profissionais ofendidos!
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um bom negociador?
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