1999

Sistema de Representação Comercial para Representantes Comerciais

2019

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SDR - Sistema de representação, Vendas e Serviços

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Dinâmicas negativas nas equipes comerciais

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sala de artigos da força de vendas  -  SALA DOS ARTIGOS DE GERENCIAMENTO

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Quando analisamos o que ocorre nas reuniões dos profissionais de vendas, podemos enumerar alguns erros típicos que podemos encontrar nelas e que devemos ser conscientes para evitar. Por isso neste artigo quero fazer referência a algumas dinâmicas negativas que se produzem nas mesmas e, apesar de que normalmente não nos damos conta delas, nem por isso deixam de ser muito prejudiciais para o bom funcionamento das equipes e a necessária objetividade nos processos de tomada de decisões. Chega o momento de apresentá-las e, com elas, a teoria de onde procedem, alguns exemplos reais e sugestões para evitar sua influência:

O Groupthinking
A Dissonância Cognitiva
O Locus of Control

O primeiro que devemos é assinalar a dificuldade de que nos demos conta de sua aparição e influência. Normalmente nos passa como à rã do exemplo: contam que se colocamos a uma rã viva num recipiente com água a temperatura ambiente e colocamos este no fogo, a rã, animal de sangue frio, irá trocando por um processo homeostático o calor do água pelo de seu próprio corpo, quando queira dar-se conta que o meio está muito quente não poderá sair e morrerá abrasada na água fervendo. Pelo contrário, se lançamos uma rã viva a uma panela de água em ebulição, quando entre em contato com o calor da água, de um salto sairá do mesmo. Um pouco doída, sim, mas viva.

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Este conhecido exemplo mostra o mais importante em qualquer dinâmica que queiramos analisar: a suficiente flexibilidade mental para ser capaz de sair de nossa caixa perceptiva. O auto engano é o engano mais importante porque não permite dar a oportunidade a ser consciente do que as falhas e erros pertencem a nosso âmbito e não ao mundo externo. Qualquer um de nós seria capaz de ver perfeitamente, em qualquer outra situação e empresa, os mesmos erros para os que somos cegos se sucedem em nossa equipe. Máxime quando os líderes e responsáveis somos nós (ARTIGO: communication skills - destrezas na comunicação).

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Vamos tentar explicar porquê em determinadas circunstâncias somos como a rã que, sem dar-nos conta que estamos metidos numa situação auto-degenerativa, quando queiramos sair dela possa ser demasiado tarde. Para isto explicaremos três dinâmicas muito negativas que acontecem em todas as equipes de trabalho e, especialmente, nas equipes comerciais. As dinâmicas são:

O Groupthinking
A Dissonância Cognitiva
O Locus of Control

Em 1961 alguns dos dirigentes políticos mais capazes e respeitados da história norte-americana adotaram de forma unânime uma medida catastrófica: a frustrada invasão de Cuba na Baía dos Porcos. O grupo que assessorava ao presidente Kennedy (seu irmão Bob, prestigiosos analistas, historiadores, o ministro de assuntos exteriores…) decidiram enviar a 1.400 exilados cubanos anti-castristas a Cuba com a pretensão de invadi-la. Em 24 horas os soldados de Castro tinham feito presos a 1.200 deles e liquidado ao restante do contingente (ARTIGO: Jogos de guerra - uma estratégia de sobrevivência).

O próprio presidente se perguntou: como pudemos chegar a ser tão teimosos? Mas não o eram. Nem ele nem seus colaboradores, grandes mentes da política americana. Que aconteceu então para que tomassem uma decisão a todas luzes errônea?

O psicólogo Irving Janis (WIKIPÉDIA) que estudou o processo, determinou que a resposta se baseia no que denominou Groupthinking ou pensamento coletivo (wikipédia: um processo de tomada de decisões nos grupos de alta coesão, onde os membros estão tão preocupados por conservar o consenso grupal, que sua capacidade crítica se torna inoperante). O grupo prefere manter sua coerência e coesão interna antes de tomar uma decisão baseada num processo objetivo. Valoriza-se mais a coincidência e a unanimidade do que o rigor e a objetividade. Quando surge o groupthinking se observam várias condutas que avisam de sua nefasta influência:

Ilusão de invulnerabilidade: o grupo crê que é impossível fracassar, especialmente quando vêm de sucessos anteriores.
Racionalização: todos os dados se analisam excessivamente e em vez de tomá-los como elementos de orientação objetiva se utilizam para justificar as decisões previamente assumidas.
Ilusão de unanimidade: ainda que existam opiniões contra, o grupo luta para parecer unido e não mostrar decisões.
Auto-censura: os membros que pensam de forma diferente, calam para não parecer que são os únicos que discordam.
Moralismo: os “bons” sempre devemos ser nós e os “maus” sempre são os outros.

Devemos ser conscientes que o groupthinking é uma dinâmica que pode surgir em qualquer grupo, mas especialmente naqueles que estão muito coesionados e que vêm de ter grandes sucessos passados. Nesses casos o grupo se vê liderado pela pressão de uma minoria ativa potente. A raiz dessa investigação o conceito de groupthinking se estendeu a outros âmbitos, especialmente nos grupos diretivos e comerciais que devem chegar a decisões rápidas em momentos decisivos (ARTIGO: Cuidado com os funcionários puxa-saco!).

Observação: exemplos de groupthinking em processos comerciais ou de decisões de marketing estratégico os há a centenas. Em realidade, após cada enorme sucesso numa equipe, ao cabo de pouco tempo esse mesmo grupo terá tido um processo de pensamento coletivo negativo. Agora nos vêm à mente duas que foram especialmente importantes:

Um conhecido diretor geral de uma empresa fabricante de produtos de limpeza que, depois de uma exitosa campanha publicitária em TV na qual aparecia ele mesmo, encadeou um conjunto de decisões comerciais erradas e pouco exitosas. O sucesso passado não garantia o futuro ainda que toda a equipe diretiva opinasse igual. Quando a situação parecia insustentável se voltou a fazer a tentativa de repetir a ação publicitária… mas o resultado, evidentemente, já não foi igual.
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Uma exitosa empresa do setor de bebidas se empenhou, faz já alguns anos, em lançar um wine cooler (um combinado a base de vinho e refrigerante). A equipe que o lançou estava, aparentemente, convicta e unânime: todos pensavam que os estudos de mercado estavam equivocados, quando assinalavam que não teriam sucesso e assim pensaram que eles não podiam fracassar. O resultado foi espetacular: fracasso rotundo. O sucesso passado não garante o futuro e menos se não luta contra o groupthinking.

Devemos distinguir o groupthinking da pressão de um líder autoritário forte. Não é o mesmo que o líder tome decisões "atarantadas" ou fora da realidade a que seja o próprio grupo o que as tome em função de manter uma coesão interna irrenunciável. Qualquer líder de equipe comercial, diretor de vendas ou marketing deveria ser muito sensível à aparição de alguns dos sintomas antes anunciados. Especialmente quando creia que o grupo apóia, de forma aparentemente unânime e entusiasta, decisões que podem levar ao máximo fracasso sem mostrar sintomas de dúvida ou reflexão objetiva (ARTIGO: Os líderes jogam o xadrez, não damas).
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O que queremos mostrar é que nem sempre que o grupo toma uma decisão unânime, esta o é em realidade. As vezes o que ocorre é que o grupo prefere aparentar coesão a ser objetivo e eficaz. Se você lidera uma equipe comercial e deve tomar decisões em grupo, recomendo-lhe fervorosamente que provoque uma discussão real e eficaz sobre todas as opções. Nomeie os advogados do diabo, obrigue a ter mais de uma opção sempre, avalie todas as idéias, pergunte a todos (especialmente aos que não falam e por tanto não provocam falsas adesões) e, sobretudo, não permita frases que motivem e conduzam ao groupthinking do tipo:

Temos que estar todos unidos em isto.
Quem não esteja a favor está em contra.
Isto é fácil, não há que o pensar mais; seguro que triunfamos.
Se todos pensamos o mesmo (ou se ninguém diz nada contrário) seguro que não podemos falhar.

Se permite que o groupthinking seja o que lidere o grupo e não o consenso, baseado num processo enraizado na objetividade e os dados reais, lhe garanto que, cedo ou tarde se encontrará com situações nas quais se surpreenderá ter tomado uma decisão tão atarantada… mas que aparentemente todos estavam de acordo. Recorde que o consenso e a unanimidade não é o mesmo e nem se levam bem.
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Outra dinâmica que em alguma ocasião comentamos com anterioridade mas que é tão importante que nunca nos cansaremos de comentar é a "Dissonância Cognitiva". O autor da teoria, o Psicólogo Leon Festinger
(WIKIPÉDIA), analisou diferentes situações em que descobriu que, nós humanos, sempre temos uma propensão a produzir relações consoantes entre as cognições e nossa conduta. E quando isso não ocorre, ao entrar em dissonância a cognição e a conduta, o usual é defender essa última.

Que o diga Mark Twain, que numa frase imortalizou este fato: estão aqueles que nos dão o equivocado ensino de que seguir ao caminho trilhado é ser coerente e constitui uma virtude e, ao contrário, não seguir pelo camiho trilhado é incoerência e constitui um vício. Que equivocados que estão!

Num famoso estudo sobre a percepção de que fumar provoca câncer de pulmão, entregou-se a um numeroso grupo de médicos (lá pelos anos setenta) todo um dossiê que recopilava as melhores investigações sobre câncer e tabagismo da época. Se pediu que analisassem a informação e determinassem se tinha uma relação causa-efeito além de qualquer dúvida entre ambos fatores. Quando se analisaram as respostas, dividiu-se o resultado entre os médicos que fumavam e os que não:

Os não fumantes pensaram abrumadoramente (cerca de 95%) que não tinha a menor dúvida da relação entre ambos fatores… mas só um 35% dos fumantes opinaram o mesmo (entre os grandes fumantes o resultado baixou até um esquálido 7%).

E é que a dissonância cognitiva provoca, especialmente, uma defesa acérrima da própria conduta, eliminando o valor de análise da informação que de fora vai contra nossa percepção. Não só não temos em conta essa informação senão que ademais a utilizamos para defender ainda mais a conduta já executada. Ao contrário, não oferecemos nenhum conserto em ver isso mesmo para outro grupo, empresa ou contexto que não sejamos nós. As conseqüências de estar em dissonância cognitiva ou de provocá-la a um terceiro são surpreendentes. Vejamos alguns exemplos:

Quando visitamos um cliente a partir de nossa própria ótica e benefício: estou lhe visitando porque estamos em plena campanha de fechamento do do mês, e como passava perto pensei: vou visitar Fulano para saber se precisa de algum produto antes da virada do mês... Costuma suceder que o cliente responde não comprando ou sendo mais negativo que de costume. O raciocínio é o seguinte: se ele crê (cognição) que só você ganha na oferta, por que deveria ajudar-lhe a conseguí-lo? Podemos resolver facilmente este problema entrando e falando sempre ao cliente desde a janela de seu benefício pessoal: como sabemos que você sempre nos disse que quer ser dos primeiros em conhecer as ofertas e os lançamentos e inovações, vimos ensinar-lhe o novo produto que nossa empresa lança ao mercado e para lhe dizer que aquele produto campeão em vendas está ainda com preços ótimos e tentadores (ARTIGO: Como incrementar sua quota de Vendas?).

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Quando entre marketing e vendas se arrancam os cabelos porque: marketing pensa que os vendedores devem ser algo lentos de entendimento e não têm vontade de vender porque se não, como se explica que tenham tão pouco sucesso o lançamento do novo e espetacular produto que marketing desenhou? Mas ao mesmo tempo quando os vendedores pensam como é possível que os teóricos de escritório de marketing façam um produto sem perguntar-nos, quando todo mundo sabe que eles não têm nem idéia do precisam os clientes? A resposta a ambos interrogantes vocês a sabem de sobra: incompreensão mútua e defesa acérrima do que cada um executa recusando o do outro departamento (ARTIGO: Quando os gerentes se convertem em inimigos mortais).

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Quando queremos oferecer à distribuição de nossos novos produtos chave: Pensados desde as reuniões comerciais internas, com promoções e material próprio que nunca passaram pelo olhar crítico do distribuidor, que imediatamente os recusa por: porque isso pode servir para todo mundo, menos para mim e meu negócio (ou zona geográfica, ou o que seja)..

Todos eles são exemplos de condutas que perfeitamente poderíamos evitar, se tão só pensássemos que ao provocar dissonância cognitiva em nossos interlocutores, o que estamos fazendo é favorecer sua rejeição a nossas propostas. Mas pense que, basicamente, o mesmo lhe sucede a você quando outro departamento critica sua forma de atuar e sua conduta comercial e você a defende até a morte… só porque é a sua, não porque para valer seja a única e melhor.

Observação: nas eternas discussões entre marketing e vendas pelos produtos que os primeiros lançam e apresentam aos segundos nas reuniões de ciclo, a empresa com a que trabalhava tinha o mesmo problema que quase todas as de seu setor: as apresentações provocavam tal dissonância aos vendedores que estes atacavam ao marketing sem nenhum escrúpulo e defendiam a morte sua conduta. Mas o problema se reduziu drasticamente quando ambos foram a um mesmo curso sobre como construir argumentos mediante os motivadores internos de compra dos clientes. A partir desse momento, criou-se uma equipe de trabalho conjunto entre marketing (que pensa o produto) e alguns vendedores (que ajudam no desenho e na construção dos argumentos de venda) e ambos o apresentam ao resto dos vendedores utilizando a mesma linguagem que eles. O resultado está sendo espetacular (ARTIGO: Comentários impensados, Profissionais ofendidos).

E a última dinâmica que vamos analisar, e que está muito relacionada com a anterior, é o "Locus de Controle". Sob esta denominação assinalamos a expectativa sobre a instância (locus) que deve ser responsável (controle) das conseqüências da própria conduta. Estudado inicialmente pelo Psicólogo norte americano J. B. Rotter lá pelos anos 60, recolhe experimentalmente aquilo que todo mundo disse ou comentou alguma vez: quando nos apresentávamos a um exame, se aprovávamos era por ter estudado; se rodamos é porque o professor nos tinha mania ou nos perguntava o que não sabíamos. A este aparente paradoxo o chamaremos "Locus de Controle":

Interno se a responsabilidade das conseqüências das ações está em nossa própria conduta.
Externo se a situamos fora dela.

A esta situação de não aceitação da responsabilidade nos fracassos e excesso de interiorização dos sucessos, não por conhecida e aceitada deixa ser paradoxal. Ainda que o tradicional é que sempre situemos o sucesso de forma interna e o fracasso fora de nosso controle, a verdade é que, algumas pessoas e equipes, definem-se por sua exacerbada capacidade de situar sempre o controle de seus atos fosse (os externos) ou dentro de sua responsabilidade (os internos). E isso não tem um significado pejorativo, mas sim indicativo da necessidade de mudança.

Quando o controle da responsabilidade de nossos atos, se põe sistematicamente ao ambiente (externo) as conseqüências são de sobras conhecidas: não lutar com todas nossas forças; dedicar mais esforços às desculpas que às soluções; não analisar com suficiente grau de profundidade os problemas; pensar que são os ciclos econômicos e o meio o único que marca o resultado de nossa ação.

O resultado final é sobradamente conhecido: normalmente não se muda, nem no positivo para não tocar aquilo que funciona, nem no negativo porque a responsabilidade não é nossa senão dos fatores externos. Quando numa equipe comercial se faz questão de só ver fora de nosso controle aquilo que influi sobre os resultados, é especialmente importante dar uma virada de timão e pegar o touro da má gestão pelos cornos da direção firme. Use a autoridade (que emana da liderança moral e o convencimento) e não do poder (que tem sua base na hierarquia e as regras) para reconduzir ao grupo à observação dos próprios erros e a tomar o controle de nossos atos (ARTIGO: Gerentes incomunicados = fracassos comerciais).

Em realidade isto último serve para qualquer das dinâmicas expostas anteriormente. Não podemos evitar que surjam, mas devemos ser conscientes de sua influência e reconduzir a situação. Não espere a que as coisas vão mal. A autêntica liderança para a mudança se demonstra na constante ocupação (que não preocupação, é preferível atuar) da melhora contínua… especialmente quando as coisas vão bem; aí se mostram os líderes de equipes para valer.

Psicólogo e Prof. David Cuadrado
Diretor de Viventia Consultoria
BIBLIOTECA EXCLUSIVA DO PROFESSOR

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