Chegando mais perto do cliente:
estratégias qualitativas e quantitativas
.
sala de
e-mail e web
.
Depois de adaptar a tecnologia da
informação, para que por meio dela pudessem desenvolver métodos de pesquisa
ainda mais sofisticados, os profissionais de marketing dedicam-se agora a um
outro tipo de análise, mais qualitativa, mais humana, buscando sondar por seu
intermédio, e com maior profundidade, as mentes e corações dos consumidores.
Novas maneiras de mensurar a
sensibilidade e as atitudes do cliente complementam cada vez mais os métodos
baseados em números; contudo, as empresas não devem jamais recorrer a
estratégias excludentes, observam os professores da Wharton.
Graças à tecnologia e a outras
inovações, sabemos muito mais sobre nossos clientes hoje do que há 40 anos,
afirma o professor
Peter S. Fader
PHD em marketing
da
UNIV. Wharton.
Podemos facilmente transferir para um microchip o pedido de um cliente;
contudo, saber que coisa é capaz de tirá-lo da indiferença é algo que ainda
nos escapa.
Tecnologias novas, capazes de
reunir e processar dados, podem se converter em ferramentas poderosas nas mãos
de especialistas em marketing, assinala Fader, que acrescenta que há empresas
rastreando clientes por meio de aparelhos de rádio e de câmeras de vídeo
instaladas em suas casas.
Parece uma forma muito persuasiva de
compreender como as pessoas utilizam e consomem diferentes produtos; no
final, porém, tem-se quilômetros e mais quilômetros de fita gravada, observa
Fader. Não se trata de uma completa perda de tempo. O importante é saber
quando se deve proceder deste modo.
É imprescindível que as empresas
pesem o custo-benefício de projetos que envolvam grandes quantidades de dados.
Se não houver ganho algum nisso, diz Fader, o profissional de marketing arrisca
então uma reação em que os gerentes gerais deixam de tentar compreender de uma
vez por todas o cliente e passam a confiar exclusivamente na informação
quantitativa. Essa estratégia pode resultar na paralisação da função do
marketing, que é substituída por funcionários encarregados dos pedidos ou por
especialistas em controle de estoque.
Fader chama a atenção para o enfoque
tecnológico do
Wal Mart,
que se propõe a reduzir os custos da cadeia de fornecedores, o que é para
ele uma estratégia eficaz. As empresas precisam optar por uma posição. O
Wal-Mart optou pelo lado do custo. Há empresas que se dizem muito próximas
do cliente, mas o que fazem é servi-lo só da boca para fora.
.
O acirramento da concorrência fez
com que muitas empresas erigissem um modelo de marketing proprietário que
substitui os bancos de dados mais volumosos, coligidos tempos atrás pelas
associações de indústrias. Nos velhos tempos, a transparência era muito
maior. Os modelos eram mais simples. As associações de indústrias tinham um
papel mais decisivo. As empresas pautavam-se pelo seguinte raciocínio: Se
não for possível conseguir os dados, devemos então partilhá-los.
Da coleta de dados ao insight criativo:
-
George Day
professor com PHD em marketing da
UNIV. Wharton,
observa que as estratégias quantitativas, tais como a prospecção de dados em que
estes são processados no intuito de se descobrirem tendências são de grande
importância para empresas com produtos já consolidados. Todavia, empresas que
estejam à procura de crescimento orgânico em mercados em evolução ou para onde
há convergência de tecnologias talvez nem sequer possuam dados; portanto, em
tais circunstâncias, os métodos qualitativos revelam-se úteis.
Até mesmo quando os dados
quantitativos gozam de maior preferência, a estratégia qualitativa ainda é
necessária para interpretar os acontecimentos, para dar-lhes profundidade,
observa Day. Não se podem passar dados de comportamento a um publicitário e
esperar grandes coisas dele. Ele precisa de um quadro mais refinado, mais
colorido e multidimensional do cliente em perspectiva.
O que verdadeiramente importa para
as empresas é o modo como os insights do consumidor são utilizados, seja qual
for o método empregado para coletá-los. Uma aplicação interessante, diz Day, é a
que vem sendo posta em prática pela
Whirlpool
e pela
Procter & Gamble,
onde as informações sobre o cliente resultam na formação de bancos conceituais,
os quais impulsionam o desenvolvimento de novos produtos. Essas informações, que
podem se referir inclusive à reação do cliente a determinados atributos do
produto, podem ser combinadas no intuito de desenvolver novos conceitos.
Em seguida, observa Day, a empresa
poderá tomar uma medida imediata, mais qualitativa, formando dentro da
empresa um grupo que proporá meios que traduzam estes conceitos em produtos.
Ainda é necessário partir dos dados para chegar a um insight criativo.
Alguém tem de ter uma intuição, um pressentimento de que vale a pena seguir
adiante em um determinado curso.
Americus Reed,
professor com PHD em marketing da
UNIV. Wharton,
chamou a atenção para o ressurgimento de técnicas que priorizam o lado
qualitativo da pesquisa de mercado, em que as empresas tentam fazer com que os
clientes projetem suas opiniões verdadeiras. Há certas situações, tópicos e
questões que os consumidores talvez prefiram não discutir abertamente.
Talvez eles não estejam dispostos a
transmitir uma auto-imagem negativa a uma terceira pessoa, ou pode ser ainda
que não saibam sequer a razão por que fazem certas coisas, observa Reed.
Para descobrir a verdade, os especialistas em marketing fazem com que seus
sujeitos projetem o que realmente pensam.
Pode-se, por exemplo, pedir aos
consumidores que examinem um desenho em que algumas pessoas aparecem em uma
situação específica; em seguida, convidá-los a preencher os balões em branco que
aparecem sobre a cabeça dos personagens. Pode-se também pedir simplesmente que
digam o que pensam sobre a situação apresentada, ou que descrevam o que se
passa. Trata-se de um exercício de livre dedução. A idéia por trás das técnicas
de projeção é a de que as pessoas projetem suas opiniões e atitudes pessoais.
.
No plano quantitativo, diz Reed, as pesquisas de marketing buscam métodos que
não apenas registrem as respostas dadas pelos consumidores aos questionários;
mais do que isso, busca-se o tempo da resposta, ou a reação implícita a ela.
Também neste caso, os indivíduos pesquisados podem se mostrar relutantes em
dizer o que realmente pensam a respeito de certas questões. Exemplos disso são o
Viagra e o McDonald’s.
O que nos interessa é a velocidade
com que as pessoas respondem às perguntas feitas. Buscamos reações que
ocorram em períodos de milissegundos. Quanto mais forte a associação, mais
rapidamente as pessoas deverão reagir a ela, afirma Reed, acrescentando que
esse tipo de pesquisa teve origem nas ciências sociais como forma de
compreender as reações a questões controversas relacionadas à raça ou ao
gênero. Hoje, é cada vez mais utilizada na pesquisa comercial.
A estratégia da
Harley-Davidson Motor Co
David
Reibstein,
professor phD EM Marketing da
UNIV. Wharton,
professor de marketing da Wharton, assinala que as estratégias qualitativas
devem ser utilizadas no período que precede a pesquisa quantitativa,
estabelecendo assim as reações a serem estudadas ou a terminologia a ser
adotada. Várias das
técnicas baseadas em padrões antigos persistem ainda, como os grupos de foco, a
que as pessoas costumam recorrer, mas que não passam de preâmbulo de uma amostra
de tamanho maior, mais formal, por meio da qual se obtêm resultados de melhor
qualidade.
O advento da Internet tornou muito
mais fácil a coleta quantitativa de dados, permitindo às empresas analisar
com maior rapidez os resultados das pesquisas, acrescenta Reibstein. Creio
que a informação qualitativa tem valor, mas não vejo as pessoas voltando a
utilizá-la em peso.
Reribstein aponta um exemplo de
estratégia quantitativa que tem dado resultados excelentes a utilização dos
chamados sistemas a cabo segmentados. Em algumas comunidades, as tevês a cabo
exibem comerciais diferentes para diferentes famílias que concordam em
participar deste projeto. Essas famílias passam então a monitorar suas compras,
para que os profissionais de marketing possam determinar até que ponto os
comerciais foram decisivos ou não nas compras daquele lar.
Os resultados de pesquisas deste
tipo influenciam o volume de propaganda a ser transmitido e o modo como os
comerciais específicos devem ser direcionados.
Outra estratégia intrigante de
pesquisa de mercado, de acordo com
Patricia Williams,
professora com PHD EM Marketing da
UNIV. Wharton,
consiste no desenvolvimento de comunidades de marcas, em que as empresas reúnem
grupos de clientes com o objetivo de aprofundar a relação que mantêm com eles.
Williams cita o caso dos gerentes da
Harley-Davidson
que, metidos em uma jaqueta de couro, costumam acompanhar os clientes em eventos
patrocinados pela empresa.
Os gerentes saem da empresa e
participam do evento montados em suas motos. Essa é sem dúvida uma forma
qualitativa de coletar dados. Com isso, eles constroem e desenvolvem um
relacionamento de confiança e intimidade sem paralelo.
Outro exemplo vem da indústria
farmacêutica, responsável pelo desenvolvimento de comunidades baseadas na Web,
em que os pacientes podem interagir uns com os outros e com a empresa. Não creio
que os consumidores saibam sempre o que desejam, observa Williams. Por meio
destas comunidades experimentais de marcas, torna-se desnecessário perguntar
diretamente ao consumidor o que quer que seja. Basta observar. Trata-se de uma
estratégia de caráter mais antropológico. Ao mesmo tempo, há limites no que se
refere ao tipo de produto que se presta à apreciação da comunidade de marca, diz
Williams, citando como exemplo o papel higiênico. Além disso, formar comunidades
de marca sai caro e, por vezes, costuma ser visto como modismo.
Há muita gente embarcando nisso,
embora não seja algo fácil de fazer. No caso do Saturno, essa estratégia foi
usada desde o início. Há os grandes encontros de donos de veículos da marca
Jeep, mas será que a Hyundai conseguiria fazer o mesmo?
Williams enfatiza também a
necessidade de números mais consistentes e de mais insights qualitativos. Os
melhores gerentes de marcas estão abertos a todo e qualquer meio que lhes
permita conseguir respostas de melhor qualidade. Não creio que os enfoques
qualitativos sejam necessariamente melhores; creio, porém, que foram muito
negligenciados, e agora estão se tornando cada vez mais populares.
De acordo com
J. Wesley Hutchinson, professor com phd em psicologia cognitva da
UNIV. Wharton,
a popularidade das técnicas qualitativas e quantitativas devem ser
entendidas dentro de um continuum. Com as estratégias quantitativas, a boa
nova é o volume de informação que pode ser explorado, diz Hutchinson; porém,
nos mercados industriais e nas relações entre empresas (business-to-business),
para conhecer o cliente ainda é preciso uma equipe de representação e vendas
bem treinada.
Em certo sentido, tudo isso
começou com a automação computadorizada. O CRM
(Marketing de Relação com o Cliente)
é uma versão na esfera das massas para o que as boas equipes de representação e
vendas sempre fizeram bem feito. A pergunta que se deve fazer é se as campanhas
de marketing produzem de fato uma relação de custo-benefício vantajosa.
Alcançar a qualidade preconizada
pelos Seis Sigma, em que um processo gera não mais de 3,4 defeitos por
milhão, é um objetivo admirável, mas a que preço? Pode-se até obter uma
qualidade elevada, mas se não for possível cortar custos para chegar a isso,
houve com certeza prejuízo, observa Hutchinson.
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Encantar o cliente é uma atitude
lucrativa até certo ponto [...] Nota-se inclusive uma certa reação por parte
de algumas pessoas que questionam a idéia de que obter mais seria uma opção
sempre preferível. Talvez seus lucros fossem mais significativos se você
tivesse parado no Cinco Sigma.
Conselhos consultivos de clientes: -
Algumas empresas
estão criando conselhos consultivos de clientes para ajudá-las a descobrir o que
seus clientes desejam de fato. O que descobrimos foi que informações de
qualidade são ferramentas poderosas para os executivos, assinala
Sean
Geehan,
presidente dos Conselhos Consultivos da Geehan, em Dayton, Ohio, responsável
pela formação e gerenciamento de conselhos de clientes. Eles querem tendências.
Querem identificar movimentos amplos que possam ajudá-los a estabelecer uma
vantagem competitiva sustentável.
Os clientes de Geehan disseram-lhe
que, quando decidem recorrer a mensurações mais quantitativas de pesquisa de
mercado, os dados são freqüentemente manipulados por terceiros, gente que
não compreende em profundidade as necessidades e estratégias da empresa.
Para que valham a pena, os
conselhos consultivos de clientes devem ser estruturados cuidadosamente, observa
Geehan. A empresa em busca de aconselhamento deve fazer com que a alta gerência
se comprometa com as reuniões do órgão, se é que espera atrair para o conselho
clientes de esferas igualmente elevadas, que são aqueles responsáveis pela
tomada de decisões. As reuniões não devem durar mais de um dia ou dois,
ocorrendo uma ou duas vezes ao ano, para que não se perca o foco. Ninguém se
queixará se o evento for realizado em local aprazível. Os conselhos devem também
oferecer elementos positivos aos seus membros.
Um conselho consultivo é mais
do que um grupo exclusivamente de estudos cerebrais, diz Geehan. Perguntamos
aos nossos clientes:que cenário teremos daqui a cinco anos? O que mais os
aflige? O que podemos fazer para ajudá-los a sair da situação em que se
encontram?
biblioteca exclusiva da univ.
wharton
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