Como o contágio social afeta a
disposição do consumidor em relação ao varejo on-line
.
sala de
e-mail e web
.
No varejo tradicional, não há nada
mais importante do que o ponto, ou a localização da loja. Muitos quebraram ou se
tornaram um grande sucesso em virtude de fatores como o volume de tráfego da
região, a densidade demográfica e a facilidade para estacionar.
Mas o que dizer do admirável, novo
e, muitas vezes, perigoso mundo do varejo na Internet, em que a localização
física da loja não tem importância alguma? De que modo se dá a evolução da
clientela do varejista virtual em uma dimensão em que tanto a concorrência
quanto os clientes se acham dispersos no espaço geográfico?
Um estudo recente de
David R. Bell,
professor com PHD em marketing da
UNIV. Wharton,
nos oferece algumas respostas bastante intrigantes. O trabalho, intitulado:
"Contágio social na Internet: evidências de um supermercado varejista on-line",
analisa o efeito do boca-a-boca e de outros fatores de "contágio social" sobre a
disposição do cliente em experimentar o varejo virtual. O estudo, escrito em
parceria com
Sangyoung Song,
professor com PHD em marketing da
UNIV. Wharton,
utilizou dados fornecidos pela
Netgrocer
relativos a 30.000 CEPs de clientes que fizeram compras on-line nos primeiros 45
meses de vida da loja on-line.
O estudo detectou um “efeito
vizinhança” significativo, responsável pelo aumento de 50% no contingente de
consumidores dispostos a experimentar pela primeira vez os serviços do
varejo on-line depois que o assunto virou tema de conversas ou foi testado
em sua região.
.
O contexto específico do varejo na
Internet suscita indagações importantes e, até o momento, ainda não
estudadas, sobretudo no que se refere ao papel fundamental desempenhado pela
clientela já existente no arrebatamento de outros clientes em potencial e
sua influência sobre eles, diz Bell.
.
Nossa análise debruça-se sobre um
fenômeno novo e importante: - a evolução, no espaço e no tempo, da
disposição do cliente em testar o varejo on-line e o modo como isso afeta o
varejista virtual. Constatamos que o mais importante não é a localização da
loja em relação ao cliente, e sim a localização da clientela já existente em
relação a outros clientes em potencial.
A situação do varejo on-line: -
De acordo com especialistas da indústria, as perspectivas de longo prazo para o
varejo on-line são muito boas. As vendas cresceram 51%, saltando para US$ 114
bilhões em 2003, enquanto os varejistas como um todo aumentaram sua margem
operacional, que hoje é de 21%, segundo um novo estudo da
Forrester Research.
Talvez, o que mais chame a atenção é o fato de que 79% de todo o varejo on-line
apresentou lucro em 2003. As vendas virtuais devem chegar a 6,6% do total de
vendas do varejo em 2004, ante 5,4% em 2003. Os varejistas acreditam que 24% das
vendas fora da Internet no ano passado foram influenciadas pela Web.
.
Com o amadurecimento da indústria, os varejistas on-line passaram a enfatizar
cada vez mais o marketing dirigido em vez das tradicionais e caras campanhas
veiculadas nos meios de comunicação de massa pela indústria em seus primórdios.
Enquanto o marketing daqueles tempos gastava bilhões com publicidade na
televisão, a maior parte dos varejistas de Internet prefere hoje a mídia
on-line. Eles investem na melhoria dos sites e fazem promoções, como envio
grátis do produto, além de anunciar em salas de bate-papo específicas e message
boards.
Contudo, apesar do sucesso da
indústria de varejo on-line na ampliação de seus sistemas virtuais e em seus
esforços de marketing, a pesquisa de Bell indica que o toque humano continua
sendo importante, mesmo que não passe do olhar curioso de um vizinho que vê
chegar à casa do lado um buquê de flores adquirido em uma floricultura
virtual no Dia dos Namorados. Não se pode desprezar o papel da emulação na
decisão de compra on-line, observa Bell.
.
Outros estudos nas áreas de economia
e sociologia sustentaram e demonstraram a existência do efeito vizinhança em
inúmeros contextos distintos; entretanto, não apontaram sua influência na
Internet, diz o estudo de Bell. Alguns pesquisadores chegaram até a
especular que a Internet talvez contribuísse para um grau maior de solidão e
dispersão do indivíduo. Já, as descobertas empíricas que fizemos reforçam a
proposição de que a interação social estimula no indivíduo o desejo de
testar um novo serviço proporcionado pela Internet.
Bell, cuja pesquisa anterior sobre
o varejo tradicional tratou de uma extensa gama de assuntos desde o modo como a
localização da loja e os preços afetam o comportamento do cliente até os
benefícios decorrentes de promoções nas quais o fabricante premia o varejista
pelo volume de unidades vendidas no período promocional, interessou-se em
estudar as formas de crescimento de uma franquia de varejo on-line depois que um
aluno do curso de MBA apresentou-lhe Lisa Kent, CEO da Netgrocer.
.
Praticamente toda variação
observada no comportamento do consumidor e nas vendas do varejo tradicional pode
ser atribuída à localização da loja”, diz Bell. Se você pegar um estabelecimento
qualquer e colocá-lo no centro de um círculo de três quilômetros, verá que
grande parte de sua clientela não ultrapassa esse raio.
Se aumentarmos o alcance
desse raio para 160 quilômetros, é bem provável que não encontremos cliente
algum. Fiquei curioso para saber como seria na Internet.
Kent revelou a Bell os dados de
vendas da Netgrocer desde a inauguração da empresa, em maio de 1997, até
janeiro de 2001 uma lista completa e extensa de todas as 382.478 transações
ocorridas em todo o país: Inseri os dados em um gráfico de acordo com o
tempo e localização geográfica das vendas para determinar de que forma o
número de clientes evoluiu, diz Bell. O resultado foi muito semelhante a uma
epidemia. No momento em que decidimos analisar os padrões encontrados mais
detalhadamente, verificamos que os novos clientes não surgiam aleatoriamente
no gráfico. Eles procediam de lugares que eram vizinhos às áreas onde já
havia clientes.
Imagine que moramos no mesmo
prédio. Um dia, você chega em casa e vê uma caixa da Netgrocer.com na minha
porta, diz Bell. Imagine agora que somos colegas de trabalho, e eu comento com
você sobre as coisas que comprei na Netgrocer.com. Parece que é isso o que
ocorre. Não podemos dizer se seria uma simples observação passiva, ou
comunicação direta, mas tudo indica que, sem desprezar os demais fatores, há de
fato um efeito social no que se refere às compras na Internet. Cremos que a
pesquisa se aplica a qualquer negócio on-line que tenha potencial de repetição
ou emulação.
É imprescindível que o varejo de
Internet, comece a pensar em formas de alimentar esse processo. Talvez se
puséssemos um outdoor em uma rodovia importante e incentivássemos as pessoas
de áreas com grande concentração urbana Filadélfia, Chicago ou Los Angeles a
irem às compras on-line, a coisa se espalharia muito mais depressa do que em
outro local. É preciso que as empresas comecem a imaginar meios de controlar
a disseminação desse processo, em vez de esperar passivamente que ele
aconteça de forma orgânica no tempo e no espaço.
O varejo on-line deve também fazer
testes, assinala Bell citando a prática da Netgrocer.com de cobrar valores
diferentes pelas remessas com base no volume e destino da mercadoria. Trata-se
de um processo que ajuda a empresa a testar o modo pelo qual as estratégias de
marketing afetam o comportamento do consumidor. Dado o enorme alcance geográfico
de uma empresa de Internet, é possível fazer experiências muito definidas, como,
por exemplo, selecionar regiões bastante distintas, tratá-las de modo diferente
e conservá-las separadas umas das outras, acrescenta.
Bell destaca também que é
importante analisar dados tais como o número da identidade dos clientes,
horário e data dos pedidos, valores e CEPs, além de manter registros bem
documentados sobre os esforços de marketing da empresa quanto foi gasto nas
várias estratégias de marketing, em que ocasiões e onde.
.
O mais interessante é que o “efeito vizinhança” desaparece quando o
consumidor retorna várias vezes às compras. A partir do momento em que ele
tem sua própria experiência, passa a confiar nela e já não leva mais em
conta o comportamento alheio.
.
Verificamos que as pessoas que
testaram o sistema logo no início, adquirindo produtos caros com gastos da
ordem de 80 dólares, em vez de 40, já no primeiro pedido têm maior
probabilidade de se tornar consumidoras habituais”, explica Bell.
O autor constatou a existência de
uma variedade enorme de características típicas das famílias que evidenciam o
potencial do varejo on-line. As regiões com contingentes mais numerosos de
afro-americanos e hispânicos mostraram-se mais arredias em relação ao varejo
on-line, o que confirma a existência da chamada “exclusão digital” descrita pelo
Departamento de Comércio dos EUA.
O relatório anual feito pela
entidade revelou que o acesso a Internet e os índices de uso da rede são
mais modestos entre algumas minorias. Indivíduos que vivem sozinhos
constituem outro grupo importante. Bell apurou que as regiões com índices
mais elevados de homens vivendo sozinhos têm maior propensão a testar o
varejo on-line primeiro do que as demais. Já as famílias grandes, compostas
por cinco membros ou mais, tendem a demorar mais para adotar o sistema.
.
Regiões com populações mais abastadas e de nível escolar superior também se
revelaram mais dispostas a testar o varejo on-line, tendo-se observado nesse
grupo um aumento na quantidade de jovens ricos o que é positivo para o
sistema e a diminuição de compras feitas para testar o sistema por parte de
indivíduos mais velhos. O tamanho físico da região revelou-se
insignificante, porém o número de famílias, a densidade populacional e o
grau de urbanização tiveram papel crítico e de efeito positivo e de grande
importância por ocasião da primeira experiência de compra on-line, informa o
estudo.
David R. Bell
-
Sangyoung Song
.
biblioteca exclusiva da univ.
wharton
.
OUTRAS excelentes artigos
Publicados pelo jornal sdr, da univ wharton:
•
líderes jogam o xadrez, não
damas
•
para aprender a voar, 1º aprenda
a caminhar
•
Oferecer descontos pode arruinar
seu negócio
•
Para os chineses, a guerra de
preços é uma arte
•
Promoção comercial - um
orçamento que cresce
•
Os homens compram, as mulheres
vão de compras
•
VENDEDOR DESINTERESSADO =
clientes insatisfeitos
•
Mantenha-se próximo do cliente (mas não demais)