Marketing
de rede: utilizando clientes antigos na conquista de novos clientes
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sala dos artigos de marketing
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NNão é de hoje que os
profissionais de marketing recorrem a todo tipo de dados demográficos e
geográficos para atrair possíveis clientes (idade, sexo, nível de escolaridade,
renda, código postal, entre outros). Existe, porém, uma outra variável que as
empresas talvez devessem levar em consideração: quem tem contato com quem? Um
estudo, elaborado pela Prof. Shawndra Hill, com PHD em Gestão de Operações e de
Informações da UNIV. Wharton, em parceria com outros autores, constatou que o
consumidor demonstra uma disposição muito maior em adquirir o produto de uma
empresa se for "vizinho de rede" dos consumidores daquele produto.
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A prospecção de dados nas chamadas
"redes sociais"
(quem conversa com quem ou quem envia
e-mails para quem)
permitira às empresas escolher a dedo possíveis clientes que, do contrário,
seriam negligenciados. Os autores do estudo Shawndra Hill, Foster Provost, da
Stern School da Universidade de Nova York, e Chris Volinsky, do AT&T Labs
Research, detalham suas descobertas em um ensaio intitulado: O marketing de
rede: "identificando possíveis clientes por meio de redes de consumidores",
publicado em maio de 2006 no Journal of Statistical Science.
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Uma das principais preocupações de
qualquer empresa consiste em saber:
"quando, como e para quem deve vender
seus produtos",
observam os autores. Oferecemos indícios substanciais de que o grau de adesão de
um consumidor a outros consumidores que já consomem um determinado produto
constitui um elemento de enorme importância e que pode servir de base para ações
diretas de marketing. Nossos resultados mostram que as empresas podem recorrer
com proveito às redes sociais na hora de elaborar suas previsões de compras.
O ensaio analisa a influência das
redes sociais por meio de um estudo feito em uma grande empresa de
telecomunicações que, na ocasião, comercializava um novo serviço. “Vizinhos
de redes consumidores vinculados a outros consumidores que já consomem o
produto aderem ao produto a um ritmo de 3 a 5 vezes mais veloz do que os
grupos de referência escolhidos pelas melhores práticas da equipe de
marketing da empresa, constatou o estudo. Além disso, a análise das redes
permite à empresa conquistar clientes que, do contrário, passariam
despercebidos, já que não seriam identificados com base nos parâmetros
tradicionais.
Embora a pesquisa se detenha em
pessoas ligadas umas às outras por meio de uma empresa de telecomunicações, os
resultados obtidos podem ser aplicados a outras redes sociais, como o MySpace e
o Facebook, de acordo com Hill. Essas redes permitem a descoberta de possíveis
clientes cujos dados são apenas parcialmente conhecidos pelas empresas. As redes
permitem descobrir possíveis clientes vinculados a outros que já adeririam ao
seu produto.
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O conceito de marketing de rede isto é, o reconhecimento de que o vínculo entre
consumidores ajuda a vender produtos não é novo. É o que acontece, muitas vezes,
com o boca-a-boca. Quando alguém recomenda um novo restaurante a amigos e
conhecidos, e estes, por sua vez, o recomendam a outros, tem-se aí um efeito de
rede. Um indivíduo famoso talvez seja capaz de criar uma rede enorme de adeptos
para um determinado produto.
O ensaio de Hill toma como exemplo o
Clube do Livro da apresentadora
Oprah Winfrey. A estrela de TV recomenda um
livro ao público do seu programa e, de repente, ele se torna um sucesso. De
igual modo, os profissionais de marketing podem ajudar a criar um "ti-ti-ti"
em torno do Código Da Vinci enviando 10.000 exemplares gratuitamente a
pessoas influentes e a livrarias.
Certos tipos de marketing de rede
trabalham com um apelo
"implícito",
e não
"explícito",
assinala o estudo. Uma mulher, por exemplo, que esteja portando uma bolsa de
grife está, na verdade, fazendo marketing da bolsa mesmo que não sugira às
amigas ou a colegas de trabalho que comprem o produto. As empresas, de modo
geral, recorrem à influência de certas pessoas (atletas, por exemplo) para
divulgar produtos por meio da adesão pura e simples a eles, observam os autores.
Hoje em dia, o acesso a bancos de dados com quantidades enormes de informação
permite às empresas dirigir o foco para as redes, aproveitando-se de elos
documentados entre consumidores.
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Embora a pesquisa de marketing
tradicional ofereça perfis detalhados de possíveis clientes, o que é, sem dúvida
alguma, muito útil, ela não revela as conexões sociais existentes entre os
consumidores. Os pesquisadores trabalharam, especificamente, com uma grande
empresa de telecomunicações que comercializava, na ocasião, um novo serviço de
comunicações na Internet. A empresa elaborou uma campanha de mala direta voltada
para possíveis clientes do serviço utilizando inúmeros dados demográficos e
geográficos. Como o serviço compreendia a utilização de tecnologia nova, o grupo
visado seria constituído por pessoas interessadas em produtos high-tech.
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A empresa dirigiu também sua
campanha de marketing para um outro grupo o de pessoas que eram "vizinhas de
rede", isto é, ela fez contato com clientes que já utilizavam seus serviços. (Os
registros da empresa permitiram aos pesquisadores ver quem se comunicava com
quem, mas sem revelar seus nomes). As pessoas que se comunicavam com um cliente
que já usava o serviço da empresa tinham maior probabilidade cerca de 3,4 vezes
mais de adquirir o produto do que outras que não mantinham contato com pessoas
da rede, diz Hill. A taxa de adesão foi mais alta entre os "vizinhos de rede"
que já demonstravam boa perspectiva de aderir ao produto pelos métodos do
marketing tradicional: as chances de adquirirem o produto eram 5 vezes maiores
do que as de outras pessoas que não se comunicavam com clientes do produto.
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Contudo, mesmo os vizinhos de
rede, cujas perspectivas eram frágeis de acordo com os procedimentos
tradicionais de marketing, tinham cerca de 3 vezes mais chances de comprar o
serviço do que os consumidores cujas perspectivas eram boas, mas não tinham
conexão alguma com clientes que já haviam aderido ao produto. Gostaríamos muito
de dizer que nosso trabalho demonstrou que os clientes discutem o produto e que
essa discussão ajuda a melhorar os índices de adesão a ele, observaram os
autores no estudo. No entanto, não foi possível prova tal coisa. As empresas de
telecomunicações não podem coletar legalmente informações sobre o conteúdo
efetivo da comunicação. Portanto, não pudemos determinar se os consumidores em
questão discutiram o produto, acrescentaram os pesquisadores.
Como as pessoas tendem a conversar
com outras parecidas com elas, seu gosto para compras seria semelhante
independentemente de discutirem ou não as qualidades de um determinado
produto. A teoria social nos diz que as pessoas que se comunicam umas com as
outras costumam ser muito semelhantes. Dá-se a esse conceito o nome de
homofilia, salientam os pesquisadores. “[...] Consumidores em contato
freqüente uns com os outros têm gostos similares, portanto tendem a comprar
os mesmos produtos.
É possível, diz Hill, que ao
explorar as redes de consumidores, as empresas tirem proveito de certos dados
que não viriam à tona na pesquisa tradicional de marketing. Pode muito bem
acontecer que a comunicação direta entre as pessoas constitua um indicador
melhor de semelhanças profundas do que os dados demográficos ou geográficos,
avaliam os autores. Em outras palavras, as pessoas com quem você conversa talvez
tenham uma importância maior que o local onde você reside. As empresas estão
sempre em busca de elementos de identificação e de meios que lhes permitam se
dirigir a possíveis clientes.
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Com o aperfeiçoamento dessa
estratégia, será possível a um só tempo fazer economia e aumentar os lucros. As
campanhas de marketing são caras e para nada servem se o público visado não for
o correto. As empresas tomam suas decisões de marketing com base no volume de
conhecimento que têm sobre sua clientela e possíveis clientes novos, observam os
pesquisadores. Quando esse conhecimento é insatisfatório, opta-se pelo mercado
de massa. Sem outras informações, o marketing é feito com base nas
características observadas. De acordo com Hill, a inclusão dos dados de rede no
cálculo de marketing das empresas pode ajudá-las a fazer um ajuste fino em suas
campanhas, mesmo quando a empresa dispõe da melhor pesquisa de mercado à sua
disposição.
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Mas será que o efeito de rede
produz os mesmos resultados com qualquer tipo de produto? Hill e sua equipe
tentaram obter essa resposta. “Cremos que os efeitos da rede de vizinhos serão
diferentes dependendo do produto que se queira comercializar”, disseram.
Especificamente, observam os autores, as pessoas costumam falar mais sobre um
novo gadget high-tech ou sobre um filme lançado recentemente. Não devemos contar
com uma reação muito animada em relação a produtos menos atraentes, como um
desodorante novo ou uma liquidação de uvas no supermercado.
Gadgetsx uvas:
Os pesquisadores só puderam pôr à
prova essa teoria porque a empresa de telecomunicações, na época, estava
comercializando dois produtos: um novo serviço de Internet e um novo plano de
preços. Embora os vizinhos de rede tivessem grande probabilidade de comprar o
novo serviço, o efeito de rede não foi tão significativo na hora de adquirir o
novo plano de preços. A diferença talvez se deva ao fato de que o novo serviço
gerou um boca-a-boca maior, ou quem sabe seja isso uma decorrência da homofilia,
observam os autores. Uma vez mais, como desconheciam o conteúdo das conversas,
não puderam dizer o que se passava. Os autores acreditam que suas descobertas
serão úteis em diversas empresas, e não apenas no negócio de telecomunicações.
Por exemplo:
o eBay adquiriu recentemente a
Skype, empresa de telefonia via Internet, por 2,6 bilhões de dólares. Agora,
a empresa terá à sua disposição um volume explícito de dados em larga escala
sobre quem fala com quem, observam. Com o gmail, serviço de e-mail do
Google, a empresa tem agora acesso a redes explícitas de relações entre
consumidores, e já vem utilizando o produto em atividades de marketing. O
próximo passo talvez seja o marketing de rede dirigido.
Além disso, sites de redes sociais
como o MySpace, Friendster e Facebook poderiam ser campos férteis para o
marketing de rede. Os blogs, que costumam atrair pessoas de interesses
semelhantes, seriam outro espaço a explorar. Com relação à questão da
privacidade, um tema que sempre vem à tona quando se utilizam informações
pessoais de clientes para ajudar na venda de produtos, Hill admite que as
empresas que recorrem ao marketing direto dirigido a um público específico
esbarram na tênue linha que separa a geração de valor para o consumidor de sua
privacidade.
Contudo, diz a autora, mostramos em
nosso estudo que a estratégia de marketing dirigido permite que um número
muito maior de clientes tome consciência da economia gerada pelos produtos
de telecomunicação oferecidos. Sobretudo as economias de custo, além de
outras vantagens, resultam em benefícios tangíveis para o público consumidor
visado.
Em última análise, prossegue Hill,
as empresas são donas dos dados de seus consumidores inclusive do conteúdo de
seu e-mail e das mensagens postadas no MySpace, e podem legalmente utilizá-los
para fins tais como os de marketing dirigido e para detecção de fraudes.
Portanto, o consumidor deve estar ciente que quando revela informações a
qualquer empresa por meios tradicionais ou por intermédio das redes sociais,
essas informações podem ser usadas pelo marketing dirigido ou por outros
métodos.
Hill apresentou essas descobertas e
a pesquisa subseqüente em diversas conferências no ano passado, inclusive em
um evento sobre redes sociais patrocinado pelo
Yahoo.
Quanto maior o acesso aos dados que permitem estabelecer contato direto com
o consumidor, tanto maior o potencial do marketing de rede, diz Hill.
Os autores apresentaram um cenário
interessante em que até mesmo as universidades podem se beneficiar do marketing
de rede. A participação em salas especiais poderia ser estimulada por meio de
marketing dirigido a alunos vinculados a outros já inscritos nessas salas,
observam. Esses vínculos existem
(via e-mail, por exemplo).
É preciso elaborar táticas que permitam utilizá-los de uma forma que conte com a
aceitação de todos.
Prof. Shawndra Hill
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biblioteca exclusiva da univ.
wharton
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