Investigando o mistério da satisfação do cliente
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sala dos artigos de atendimento
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Tudo começou como uma charada
acadêmica sem grandes pretensões. Quatro pesquisadores três deles da Wharton e
um professor visitante já sabiam que, na indústria aérea, clientes e empregados
têm verdadeira veneração pela
Southwest Airlines.
Na indústria da informática, a
Dell
é considerada a melhor no quesito de satisfação do cliente. Na indústria
automotiva, a
Toyota é a
empresa a ser imitada. Contudo, no caso do varejo, que empresa ditaria os
padrões de satisfação para clientes e funcionários? Em quase todos os segmentos
da indústria, pode-se apontar com facilidade uma empresa que se destaca das
demais, observa
Serguei Netessine,
professor de Gestão de Operações e de Informações da
UNIV. Wharton.
No varejo, porém, não há uma empresa
específica que sirva de modelo. Em outras palavras, não temos uma Toyota do
varejo.
Netessine,
Marshall Fisher,
Jayanth Krishnan
e
Daniel Corsten
desenvolvem dois projetos intimamente relacionados cujo objetivo é descobrir o
que determina o sucesso no mundo heterogêneo do varejo tomando por base os
parâmetros de lucratividade e de crescimento a longo prazo. Fisher é diretor
adjunto do Centro Fishman-Davidson de Gestão de Serviços e Operações da Wharton.
Krishnan faz doutorado na Wharton e Corsten é professor visitante na Wharton e
vice-diretor do Instituto Kuehne de Logística da
Univ. St. Gallen,
na Suíça. As conclusões preliminares sobre os motivos do sucesso refletem uma
máxima cultivada há tempos pela indústria de serviços, mas só recentemente
transposta também para o varejo:
a satisfação do cliente.
Embora tal descoberta não seja,
por si só, nenhuma surpresa, alguns resultados inesperados vieram à tona quando
os quatro especialistas em operações decidiram tentar determinar com precisão
quais elementos promovem a satisfação do cliente, ajudando o consumidor a
diferenciar um varejista do outro um processo que, no entender dos
pesquisadores, recebeu pouca atenção até o momento. Os especialistas descobriram
entre outras coisas que:
A satisfação do cliente é
parcialmente motivada pela disponibilidade do estoque: -
isto é, sempre que o cliente
acha nas prateleiras aquilo que está procurando, ele fica satisfeito. Parece
trivial, mas a disponibilidade do produto no estoque, fora de estoque ou nas
prateleiras é uma questão muito mais complicada do que se pensava
anteriormente, observa Netessine. O modo como o cliente reage a um produto
fora de estoque é muito diferente da reação imaginada pelo varejista.
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Com relação aos produtos em falta no estoque: -
cabe a máxima segundo a qual
menos é mais. Em outras palavras, a idéia tradicional de que um volume maior
de estoque resulta em menos itens em falta não é verdadeira. Pelo contrário,
o estoque parece chegar, num dado momento, a uma massa crítica: quando é
grande demais, e o depósito idem, os itens em falta começam a se multiplicar
porque os funcionários se vêem literalmente impossibilitados de localizar os
produtos procurados ou, com freqüência, armazenam em locais indevidos os
itens que precisam repor nas prateleiras. É curioso notar que quanto mais
tempo um gerente permanece em uma loja, menor é o volume de itens em falta.
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Clientes satisfeitos são uma decorrência de empregados satisfeitos: -
que conhecem a loja e o
seu conteúdo e são capazes de passar aos consumidores o insight e as
informações desejadas. Apesar da simplicidade desse raciocínio,
especialistas da Wharton ressaltam que é difícil encontrar, manter e motivar
funcionários com esse tipo de conhecimento no segmento do varejo, já que,
via de regra, o setor paga apenas o salário mínimo aos seus empregados. Uma
maneira de lidar com esse problema consiste em desenvolver políticas à prova
de tolos, isto é, de fácil entendimento e implementação.
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Clientes satisfeitos não só contribuem para o aumento da clientela cativa do
varejo: - como
aumentam também o volume de compras e atraem novos clientes graças ao boca a
boca. Juntas, a fidelização e a expansão do número de clientes impulsionam o
desempenho financeiro do varejista. Conseqüentemente, a aferição da
satisfação do cliente por meio de pesquisas regulares é tão importante nesse
setor quanto em diversas outras indústrias de serviços.
Parece haver um limiar ou patamar
ideal de desempenho considerado aceitável, diz Fisher referindo-se, em parte, a
alguns estudos prévios da Wharton sobre um fabricante de computadores que
vinculava o grau de satisfação do cliente a recomendações subseqüentes do
produto.
Enquanto estivermos acima desse
patamar, não importa muito se somos muito bons ou excelentes. De um modo ou
de outro, os clientes estarão satisfeitos, e isso é o que conta.
Em geral, admite Fisher, é difícil
identificar o nível de desempenho ideal de cada segmento do varejo.
Como saber qual o patamar ideal?
É preciso relacionar os números
referentes à satisfação do cliente aos resultados que mais interessam à empresa
e à manutenção da clientela conquistada.
Uma pesquisa sobre a manutenção da
clientela conquistada por uma grande companhia de telecomunicações
constatou, por exemplo, que ela havia estacionado em 75%, embora a
satisfação do cliente continuasse a apresentar índices cada vez mais
elevados. Portanto, deve-se pensar na satisfação do cliente como um patamar
a ser alcançado.
Funcionários - centros de receitas e de
custos: - Para
determinar o que impulsiona a satisfação do cliente, os quatro especialistas
adotaram duas estratégias diferenciadas, porém complementares. Fisher, Netessine
e Krishnan estão recrutando grandes varejistas para um projeto de pesquisa cujo
objetivo é descobrir quais políticas operacionais empregadas nas lojas resultam
em melhor desempenho, índices mais elevados de experiência de compra por parte
do cliente e desempenho financeiro ótimo.
A pesquisa sobre políticas
operacionais adotadas nas lojas se concentrará na folha de pagamento, na
metragem quadrada do estabelecimento, no nível de manutenção dos
funcionários e no treinamento. O desempenho da loja será medido pela
correção dos registros de estoque e de itens em falta (“Você não pode
melhorar o que não pode medir”, diz Fisher), praticidade do layout ,
inclusão de serviços adicionais, exatidão das informações contidas em placas
ou cartazes e correção de preços.
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Com relação à experiência de compra
do cliente, serão feitas perguntas que analisarão os benefícios decorrentes
de uma equipe prestativa e simpática, da boa organização da loja, do grau de
facilidade com que se paga pelas compras feitas; contudo, a principal
preocupação será com a seguinte questão: o cliente encontrou o que
procurava?
Há uma citação anônima segundo a
qual o varejo está nos detalhes, diz Krishnan, que passou vários dias
trabalhando em uma grande cadeia de lojas de conveniência para coletar
informações sobre a satisfação do cliente.
Que detalhes contribuem mais para a
geração de receitas e quais contribuem mais para a geração de custos?
Na cadeia de lojas de
conveniência, o lucro dependia mais do empregado de salário mínimo que
trabalhava corretamente. O empregado é o centro das receitas e dos custos.
Curiosamente, há evidências de que o roubo de mercadorias em lojas é prática
usual entre os empregados, e não entre os clientes. Há uma relação direta entre
o moral dos funcionários e o roubo de mercadorias.
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Em um estudo em separado, porém paralelo, Corsten trabalha junto a varejistas as
questões de itens ausentes do estoque e como eles influenciam a experiência de
compra do consumidor. Por intuição, diríamos que isso tem um impacto sobre a
satisfação do cliente, diz Corsten.
Contudo, também temos
evidências convincentes, em mais de doze categorias, de que praticamente
metade dos consumidores reage aos itens em falta substituindo-os por outros
de marca ou tamanho diferente; ao passo que um terço dos consumidores
prefere retirar-se da loja.
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Citando estudos anteriores, Corsten
observa que a média de produtos em falta nas lojas de varejo é de 8,3%, que
é um valor significativo. Em seu relatório de 2002 para o
Grocery Manufacturers
of America, Corsten observou que o varejo pode incrementar os ganhos por
ação em até 5%, contanto que resolva a questão dos itens em falta.
A falta de itens no estoque não
deve ser atribuída a erros de gestão da cadeia de suprimentos, ao setor de
compras ou a fatores externos de distribuição, diz Corsten. Na maior parte das
vezes, a culpa é da própria loja, que faz previsões equivocadas, perde os itens
estocados ou os guarda em local incorreto; além disso, falta um bom sistema de
controle de abastecimento de prateleiras e de monitoração do estoque. Por fim,
são utilizados meios inadequados ou falhos de contagem de estoque.
Ao examinarmos por que a
insuficiência de estoque é tão preocupante, descobrimos que 72% das causas
principais podem ser detectadas na própria loja, observa Corsten. Portanto,
não é preciso muito para se dar conta de que o melhor lugar para se começar
a sanar o problema é pela própria loja. Embora várias outras coisas mereçam
atenção como a gestão dos sistemas de distribuição, expansão internacional e
varejo online parece que alguns varejistas simplesmente não deram o melhor
de si dentro de sua própria casa.
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É surpreendente constatar que, a
despeito de uma existência tão longa, o varejo ainda hoje apresente um
desempenho tão sofrível. É de se perguntar por que ninguém até hoje quis
assumir essa batalha. É por esse motivo que estamos atualmente recrutando
varejistas para um estudo de acompanhamento que pretende descobrir como
baixar significativamente a falta de itens em estoque.
Itens em falta: -
Com a pesquisa feita pelo grupo, Fisher fez algumas descobertas interessantes
sobre o modo como as empresas fazem a auditoria dos estoques para identificar a
ausência de itens. Um grande varejista de eletroeletrônicos, por exemplo,
contratava uma empresa externa para identificar os itens em falta.
Os auditores caminhavam pelos
corredores da loja no final do dia à procura de produtos em falta nas
prateleiras. Ao identificá-los, escaneavam o código de barras do item em
falta. Foi uma descoberta surpreendente. Cerca de 30% das vezes, o
computador acusava a existência do item na loja, mas era impossível
encontrá-lo nas dependências do varejista, diz Fisher. Havia, obviamente, um
problema de gestão no estabelecimento.
De que forma a falta de um produto afeta
os clientes?: -
Depois de revisar um amplo estudo com mais de 71.000 consumidores em 20 países,
Corsten deparou com cinco respostas principais:
-
os clientes compravam o item em
falta em outra loja (troca de loja);
-
adiavam a compra (e compravam depois
na mesma loja);
-
substituíam o item por outro de
tamanho ou tipo diferente, porém da mesma marca;
-
substituíam por outro de marca
diferente;
-
ou então deixavam de comprá-lo
(venda perdida).
Embora o consumidor tolere em
certa medida a falta de produtos, seu nível de tolerância depende da urgência
com que ele necessita do item em questão, e também do grau de fidelidade do
cliente à marca. Como diz Corsten:
Em situações em que o custo de
oportunidade decorrente da impossibilidade de consumir imediatamente o
produto é alto (quando, por exemplo o consumidor precisa de fraldas), o
cliente poderá substituí-lo ou recorrer à outra loja. Por outro lado, um
custo de oportunidade baixo poderá resultar no adiamento ou no cancelamento
da compra.
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Quando o custo de substituição
proporcionado pela utilização de uma marca menos apreciada é maior (como,
por exemplo, no caso de produtos de higiene feminina ou de itens de
lavanderia), o consumidor optará por uma solução qualquer, exceto a troca de
marca.
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Quando o custo de transação é alto,
isto é, quando envolve o tempo do consumidor e o esforço de compra posterior
ou em outra loja, o consumidor acaba substituindo ou cancelando a aquisição.
Isso mostra que o cliente está disposto a fazer a troca do produto em
algumas categorias mais do que em outras.
É interessante notar também que a
satisfação do cliente, no que diz respeito aos produtos em falta no estoque,
parece também sofrer a influência da geografia.
Corsten descobriu que os
consumidores europeus apresentam uma probabilidade 50% maior de trocar uma
marca por outra concorrente quando não encontram o item desejado, mas são
menos propensos a mudar de loja nesses casos.
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Por outro lado, o consumidor
americano mostra-se mais disposto a substituir o produto não encontrado por
outro de tamanho ou conformação diferente dentro do leque de opções
oferecido por sua marca preferida. Contudo, se seu produto preferido não for
encontrado duas ou três vezes seguidas, o consumidor americano mostra-se
mais inclinado do que o europeu a trocar de loja.
O desafio de entender o que
promove a satisfação do cliente, na opinião de Netessine, decorre da necessidade
de combinar dois processos ao mesmo tempo. Na indústria de serviços, é preciso
dar toda a atenção ao cliente, diz ele. Na indústria de manufatura, a principal
preocupação deve ser a dinamização do processo de fabricação.
No varejo, há um fluxo de clientes
que requer atenção e, ao mesmo tempo, um fluxo de produtos que devem estar
disponíveis no lugar certo, na hora certa, no volume certo e cercado pelo
número certo de empregados, de modo que o fluxo de clientes e de produtos
não seja afetado. No varejo, os dois processos se dão ao mesmo tempo, o que
parece complicar muito a dinâmica desse segmento.
Os estudos em andamento, dizem
especialistas, analisarão todos os aspectos do varejo e, por último,
identificarão as melhores práticas com base em vários segmentos do setor. O alvo
da pesquisa, segundo Fisher, poderia se concentrar naqueles elementos que
ajudariam a criar uma empresa que fosse a Toyota do mercado varejista.
Prof. A
.
biblioteca exclusiva da univ.
wharton
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