Nem
tudo nesta vida é movido por dinheiro
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sala dos artigos de
reflexões
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Por que vamos trabalhar
cada dia? Que é o que nos anima cada manhã a levantar-nos da cama, onde
se está tão quentinho e gostoso, e lançar-nos ao congestionamento, às
pressas, à tensão... ao trabalho? Nos primeiros dias de Microsoft,
muitas vezes parecia que eu era o responsável de fazer quase tudo. Geria
os contra-cheques, calculava os impostos, redigia os contratos e me
esforçava por averiguar como vender nossos produtos. O resto das pessoas
em nossa pequena empresa eram programadores, e também faziam muitas
coisas. De fato, todos escrevíamos uma imensa quantidade de códigos
fonte. Era nossa vida:
levantávamo-nos da cama,
escrevíamos códigos, igual víamos um filme, pedíamos HAMBURGERS ou
pizza, escrevíamos mais código, e depois caíamos rendidos e
dormíamos em nossas cadeiras.
Agora, mesmo que passamos
de ser uma sala cheia de programadores a uma corporação de primeiro
nível com 38.000 funcionários, o típico funcionário Microsoft é bastante
parecido ao de 1975. Ainda trabalha duro, pede pizza, bebe refri e faz
brincadeiras com seus colegas. Tanto se estão escrevendo código como se
não, todo mundo aqui é um apaixonado da tecnologia e tem toda sua
atenção posta em desenvolver produtos e serviços de qualidade para
nossos clientes. O entusiasmo e a concentração nesse fim que vejo em
cada canto de nossa companhia são o que me faz ir trabalhar a cada dia.
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Ah, esse grande
mistério... por que vamos cada dia a trabalhar? Que é o que nos anima
cada manhã a levantar-nos da cama, onde se está tão quentinho e gostoso,
e lançar-nos ao congestionamento, às pressas, à tensão... ao trabalho?
Sim, bem, é verdade que praticamente todo mundo tem uma conta a pagar ou
um gato para alimentar. Mas se para valer a pena crê que o dinheiro é o
mais importante, está muito equivocado. Pense: porque Bill Gates teria
que ir trabalhar? Sobra-lhe o dinheiro, verdade? Então? A ver se ao
final vai ser verdade que nem tudo nesta vida é movido por dinheiro...
Bill Gates explica que um dos segredos pelo que ele vai trabalhar: o
entusiasmo de seus colegas e, sobretudo, neste caso funcionários, e a
consciência de estar servindo a um ideal superior:
Um PC em cada casa,
permitir explorar a todo mundo suas possibilidades ao máximo, etc.
E, pelo que conta, esse entusiasmo é também o que movia a esses
poucos programadores que em 1975 formaram uma pequena empresa,
destinada a mudar o mundo através da tecnologia da informação. Esse
entusiasmo, esse idealismo...
não pode ser muitas vezes um motor mais potente do que o
dinheiro?
Pois por aí vão
encaminhadas efetivamente a maioria das teorias dominantes hoje em dia
no campo da motivação trabalhista. O ambiente trabalhista não só se
trata de ter um assento cômodo, senão também de encontrar o equilíbrio
adequado entre supervisionar e deixar certa liberdade aos funcionários,
a comunicação dentro da empresa, recompensas econômicas e sociais, a
organização inteligente do trabalho, a sensação de contribuição
individual e a responsabilidade coletiva são alguns dos pontos chave
neste sentido:
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Teoria X,
teoria E, teoria Z:
o sociólogo Douglas
McGregor (1906-1964) postulou duas teorias contrapostas em seu
livro: o lado humano da empresa (1960). Por uma parte, o denominado
X, segundo o qual a uma pessoa média não lhe agrada o trabalho por
natureza e trata de evitá-lo. Não é difícil encontrar exemplos:
trabalhar é um castigo divino na tradição judeu-cristã. Em qualquer
caso, dado que às pessoas não lhes agrada trabalhar, é necessário
obrigar-lhes a ele, controlar-lhes, dirigir-lhes, ameaçar-lhes e
castigar-lhes se for necessário para que levem a cabo os objetivos
da empresa. Tem até uma sentença famosa que diz: se o trabalho não
fosse ruim, não existiria o salário.
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De fato, às pessoas
lhes agrada ser dirigidas, já que assim evitam qualquer
responsabilidade; não albergam ambição alguma, só desejam segurança.
Lembrem, estamos falando de um comportamento prototípico. Pode ser
que ninguém seja assim, mas isso não impede que exista uma tendência
a ser assim. De fato, segundo McGregor este comportamento não é uma
conseqüência da natureza do homem, senão das organizações
industriais, de sua filosofia, política e forma de administração.
McGregor complementou esta teoria X que batizou como E, segundo a
qual investir energias tanto físicas como mentais no trabalho é tão
natural como jogar ou descansar.
Às pessoas não lhes
desagrada o trabalho; em condições determinadas, pode ser
inclusive uma fonte de satisfação, ainda que também uma forma de
castigo, claro.
Nestas circunstâncias,
o controle de um superior e as ameaças não são a única forma de
conseguir os objetivos empresariais; o trabalhador pode
auto-controlar-se e auto-dirigir-se para conseguir levar a cabo o
que lhe foi encomendado. Seu compromisso dependerá dos benefícios
que obtenha, entre os que o mais importante é a satisfação pessoal.
Pelo geral, as pessoas aprendem, e não só aceitam senão que
inclusive procuram tomar responsabilidades; evitar isto, junto com a
falta de ambição ou a priorização da segurança não são elementos
inerentes às pessoas senão condutas adotadas por experiência.
Ademais, o normal é contribuir imaginação e criatividade para
resolver os problemas no trabalho. Em qualquer caso, esta retalia de
bondades fica super ditada segundo McGregor a uma condição superior:
na vida moderna, o potencial intelectual dos trabalhadores só se
aproveita a metade.
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Estes postulados de
McGregor foram complementados pelo professor William Ouchi em seu
livro Teoria Z: como as empresas norte-americanas podem estar à
altura do desafio japonês (1981). Esta teoria Z combina a E de
McGregor com o modelo imperante na empresa japonesa moderna: muita
liberdade e confiança para os trabalhadores, que em troca
desenvolvem uma lealdade inquebrantável e desenvolvem um trabalho em
equipe sem fissuras dentro da empresa. O empresário tem que ver o
trabalhador como um ser humano, com vida pessoal e sentimentos, e
integrar-lo dentro de uma coletividade que lhe respeite e
compreende. Afinal de contas, é na empresa onde mais tempo passamos,
não?
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•
E como lhe pode ajudar a
tecnologia em tudo isto?:
nós não vamos
indicar-lhe qual é o melhor modelo, ou como misturá-los para
tirar-lhes o máximo partido. Nem sequer tem por que eleger um ou
outro. Mas se o faz, se lhe atrai a idéia ou se vê refletida sua
forma de gerir sua empresa em algum deles, sim podemos indicar-lhe
como a tecnologia pode ajudar-lhe a ir ainda além. Se seu estilo vem
definido pela teoria X, deve saber que graças à informática pode
controlar até cada tecla que pulsem seus funcionários em seus
computadores.
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Assim mesmo, poderá
supervisionar o uso que façam de Internet, as mensagens de correio
eletrônico que enviem e inclusive suas conversas por mensagens
instantâneas. No entanto, sem chegar a esses extremos, pode aplicar
uma política de controle rígido mais transparente centralizando seu
trabalho. De igual forma que poderia pedir que cada passo que dêem
se o notifiquem com um correio eletrônico, pode estar ao tanto
usando as funcionalidades de Microsoft para compartilhar um
calendário, documentos, contatos e citações, de forma que possa ver
o desenvolvimento do trabalho diário de seus funcionários sem
interrompê-lo.
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Se seu modelo de
gestão se aproxima mais ao enunciado na teoria E ou no Z, ponha a
ênfase no software de comunicação. Os programas de correio
eletrônico e de mensagens instantâneas, e o uso de uma intranet como
veículo de comunicação interna na empresa podem ajudar-lhe a
canalizar esse esforço de comunhão com seus trabalhadores. Por
suposto que deve ir bem mais além para que funcione, mas faça-lhe
caso a Pedro Almodovar e comece falando com eles. A tecnologia lhe
ajudará a passar o primeiro trago, e ademais lhe permitirá abrir um
leito de comunicação mais sincero.
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