Muitas substâncias com grande atividade farmacológica podem ser extraídas de uma planta chamada Papaver somniferum, conhecida popularmente com o nome de papoula do oriente. Ao se fazer cortes na cápsula da papoula, quando ainda verde, obtém-se um suco leitoso, o ópio (a palavra ópio em grego quer dizer suco). Quando seco este suco passa a se chamar pó de ópio. Nele existem várias substâncias com grande atividade. A mais conhecida é a morfina, palavra que vem do deus da mitologia grega Morfeu, o deus dos sonhos.Pelo próprio segundo nome da planta somniferum, de sono, e do nome morfina, de sonho, já dá para fazer uma iéia da ação do ópio e da morfina no homem: |
São depressores do sistema nervoso
central, isto é, fazem nosso cérebro funcionar mais devagar. Mas o ópio ainda
contém mais substâncias sendo que a codeína é também bastante conhecida. Ainda,
é possível obter-se outra substância, a heróina, ao se fazer pequena modificação
química na fórmula da morfina. A heróina é então uma substância semi-sintética
(ou semi-natural).
Estas substâncias todas são chamadas de drogas opiáceas ou simplesmente opiáceos, ou seja, oriundas do ópio; podem ser opiáceos naturais quando não sofrem nenhuma modificação (morfina, codeína) ou opiáceos semi-sintéticos quando são resultantes de modificações parciais das substâncias naturais (como é o caso da heroína).
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Mas o ser humano foi capaz de imitar a natureza fabricando em laboratórios
várias substâncias com ação semelhante a dos opiáceos: a meperidina, o propoxifeno,
a metadona são alguns exemplos. Estas substâncias totalmente sintéticas
são chamadas de opióides (isto é, semelhantes aos opiáceos).
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Estas substâncias todas são colocadas em comprimidos ou ampolas, tornando-se
então medicamentos. A tabela abaixo dá exemplos de alguns destes medicamentos.
Tabela - Nome de alguns medicamentos vendidos no Brasil contendo drogas
tipo ópio (naturais ou sintéticos) nas suas formulações (segundo Dicionário
de Especialidades Farmacêuticas - DEF 1990/91). Opiáceo ou Opióide Indicação
de uso médico Nomes comerciais dos medicamentos
Efeitos no cérebro -Todas as drogas
tipo opiáceo ou opióide têm basicamente os mesmos efeitos no SNC: diminuem
a sua atividade. As diferença ocorrem mais num sentido quantitativo, isto
é, são mais ou menos eficientes em produzir os mesmos efeitos; tudo fica
então sendo principalmente uma questão de dose. Assim temos que todas essas
drogas produzem uma analgesia e uma hipnose (aumentam o sono): daí receberam
também o nome de narcóticos que significa exatamente as drogas capazes de
preduzir estes dois efeitos: sono e diminuição da dor. Recebem também por
isto o nome de drogas hipnoanalgésicas. Agora, para algumas drogas a dose
necessária para este efeito é pequena, ou seja, elas são bastante potentes
como, por exemplo, a morfina e a heroína; outras, por sua vez, necessitam
doses 5 a 10 vezes maiores para produzir os mesmos efeitos como a codeína
e a meperidina.
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Algumas drogas podem ter também uma ação mais específica, por exemplo, de
deprimir os acessos de tosse. É por esta razão que a codeína é tão usada
como antitussígeno, ou seja, é muito boa para diminuir a tosse. Outras têm
a característica de levarem a uma dependência mais facilmente que as outras;
daí serem muito perigosas como é o caso da heroína.
Além
de deprimir os centros da dor, da tosse e da vigília (o que causa
sono) todas estas drogas em doses um pouco maior que a terapêutica
acabam também por deprimir outras regi!ões do nosso cérebro como por
exemplo os que controlam a respiração, os batimentos do coração e
a pressão do sangue. Como será visto, isto é muito importante quando
se analisa os efeitos tóxicos que elas produzem.
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Via de regra as pessoas que usam estas substâncias sem indicação médica,
ou seja, abusam das mesmas, procuram efeitos característicos de uma depressão
geral do nosso cérebro: um estado de torpor, como que isolamento das realidades
do mundo, uma calmaria onde realidade e fantasia se misturam, sonhar acordado,
um estado sem sofrimento, o afeto meio embotado e sem paixões. Enfim, um
fugir das sensações que são a essência mesma do viver: sofrimento e prazer
que se alternam e se constituem em nossa vida psíquica plena.
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Efeitos no resto do corpo - As pessoas
sob ação dos narcóticos apresentam uma contração acentuada da pupila dos
olhos ("menina dos olhos"): ela às vezes chega a ficar do tamanho da cabeça
de um alfinete. Há também uma paralisia do estômago e a pessoa sente-se
empachada, com o estômago cheio como se não fosse capaz de fazer a digestão.
Os intestinos também ficam paralisados e como conseqüência a pessoa que
abusa destas substâncias geralmente apresenta forte prisão de ventre. É
baseado neste efeito que os opiáceos são utilizados para combater as diarréias,
ou seja, são usados terapeuticamente como antidiarréicos.
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Efeitos tóxicos - Os narcóticos sendo usados através de injeções dentro das veias, ou em doses maiores por via oral, podem causar grande depressão respiratória e cardíaca. A pessoa perde a consciência, fica de cor meio azulada porque a respiração muito fraca quase não mais oxigena o sangue e a pressão arterial cai a ponto de o sangue não mais circular direito: é o estado de coma que se não for atendido pode levar à morte. Literalmente centenas ou mesmo milhares de pessoas morrem todo ano na Europa e Estados Unidos intoxicadas por heroína ou morfina. Além disso, como muitas vezes este uso é feito por injeção, com freqüência os dependentes acabam também por pegar infecções como hepatites e mesmo aids.
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Aqui no Brasil, uma destas drogas tem sido utilizada com alguma freqüência por injeção venosa: é propoxifeno (principalmente o Algafan®). Acontece que esta substância é muito irritante para as veias, que se inflamam e chegam a ficar obstruídas. Existem vários casos de pessoas com sérios problemas de circulação nos braços por causa disto. Há mesmo descriçao de amputação deste membro devido ao uso crônico de Algafan®. Outro problema com estas drogas é a facilidade com que elas levam à dependência, ficando as mesmas como o centro da vida das vítimas. E quando estes dependentes, por qualquer motivo, param de tomar a droga, ocorre um violento e doloroso processo de abstinência, com náuseas e vômitos, diarréia, câimbras musculares, cólicas intestinais, lacrimejamento, corrimento nasal, etc, que pode durar até 8-12 dias.
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Além do mais o organismo humano se torna tolerante a todas estas drogas narcóticas. Ou seja, como o dependente destas não mais consegue se equilibrar sem sentir os seus efeitos ele precisa tomar cada vez doses maiores, se enredando cada vez mais em dificuldades, pois para adquirí-la é preciso cada vez mais dinheiro. Para se ter uma idéia de como os médicos temem os efeitos tóxicos destas drogas basta dizer que eles relutam muito em receitar a morfina (e outros narcóticos) para cancerosos, que geralmente têm dores extremamente fortes.
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E assim milhares de doentes
de câncer padecem de um sofrimento muito cruel, pois a única substância
capaz de aliviar a dor, a morfina ou outro narcótico, tem também estes efeitos
indesejáveis. Nos dias de hoje a própria Organização Mundial da Saúde tem
aconselhado os médicos de todo o mundo que nestes casos, o uso contínuo
de morfina é plenamente justificado. Felizmente, são pouquíssimos os casos
de dependência com estas drogas no Brasil, principalmente quando comparado
com os problemas de outros países. Entretanto, nada garante que esta situação
não poderá modificar-se no futuro.
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