A
palavra alucinação significa, em linguagem médica, percepção sem objeto;
isto é, a pessoa que está em processo de alucinação percebe coisas
sem que elas existam. Assim, quando uma pessoa ouve sons imaginários
ou vê objetos que não existem ela está tendo uma alucinação auditiva
ou uma alucinação visual. As alucinações podem aparecer espontaneamente
no ser humano em casos de psicoses, sendo que destas a mais comum
é a doença mental chamada esquizofrenia. Também podem ocorrer em pessoas
normais (que não têm doença mental) que tomam determinadas substâncias
ou drogas alucinógenas, isto é, que "geram" alucinações. Estas drogas
são também chamadas de psicoticomiméticas por "imitarem" ou "mimetizarem"
um dos mais evidentes sintomas das psicoses - as alucinações.
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alucinações
e delírios em certas doenças mentais ou por ação de droga. É óbvio que estas
alterações não significam expansão da mente. Isto porque a alucinação e
o delírio nada têm de aumento da atividade ou da capacidade mental; ao contrário
são aberrações, perturbações do perfeito funcionamento do cérebro, tanto
que são característicos das doenças chamadas psicoses. Grande número de
drogas alucinógenas vêm da natureza, principalmente de plantas. Estas foram
"descobertas" pelos seres humanos do passado que, ao sentirem os efeitos
mentais das mesmas, passaram a considerá-las como "plantas divinas", isto
é, que faziam com que quem as ingerisse recebesse mensagens divinas, dos
deuses. Assim, até hoje em culturas indígenas de vários países o uso destas
plantas alucinógenas tem este significado religioso. Com o processo da ciência
várias substâncias foram sintetizadas em laboratório e desta maneira, além
dos alucinógenos naturais hoje em dia têm importância também os alucinógenos
sintéticos, dos quais o LSD-25 é o mais representativo. Estes últimos serão
objetos de outro folheto. Há ainda a considerar que alguns destes alucinógenos
agem em doses muito pequenas e praticamente só atingem o cérebro e, portanto,
quase não alteram qualquer outra função do corpo da pessoa: são os alucinógenos
propriamente ditos ou alucinógenos primários. O THC (tetrahidrocanabiol)
da maconha, por exemplo, é um alucinógeno primário e será analisado em folheto
próximo. Mas existem outras drogas que também são capazes de atuar no cérebro
produzindo efeitos mentais, mas somente em doses que afetam de maneira importante
várias outras funções: são os alucinógenos secundários. Entre estes últimos
podemos citar uma planta, a Datura, conhecida no Brasil sob vários nomes
populares e o remédio Artane® (sintético).
Os vegetais alucinógenos que ocorrem no Brasil
O nosso país, principalmente através de sua imensa riqueza natural, tem
várias plantas alucinógenas. Os mais conhecidos estão citados a seguir.
Cogumelos
O
uso de cogumelos ficou famoso no México, onde desde antes de Cristo
já era usado pelos nativos daquela região. Ainda hoje, sabe-se que
o "cogumelo sagrado" é usado por alguns pajés. Ele recebe o nome científico
Psilocybe mexicana e dele pode ser extraído uma substância de poderosa
alucinógena: a psilocibina. No Brasil, ocorrem pelo menos duas espécies
de cogumelos alucinógenos, em deles é o Psilocybe cubensis e o outro
é espécie do gênero Paneoulus.
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Jurema - O vinho de Jurema, preparado
à base de planta brasileira Mimosa hostilis, chamado popularmente de Jurema,
é usado pelos remanescentes índios e caboclos do Brasil. Os efeitos do vinho
são muito bem descritos por José de Alencar no romance Iracema. Além de
conhecido pelo interior do Brasil, só é utilizado nas cidades em rituais
de candomblé por ocasião de passagem de ano, por exemplo. A Jurema sintetiza
uma potente substância alucinógena, a dimetiltriptamina ou DMT, responsável
pelos efeitos.
Mescal ou Peyolt - Trata-se de um cacto,
também utilizado desde remotos tempos na América Central, em rituais religiosos.
Trata-se de um cacto que produz a substância alucinógena mescalina. Não
existe no Brasil.
Caapi e Chacrona - São duas plantas
alucinógenas que são utilizadas conjuntamente sob forma de uma bebida que
é ingerida no ritual Santo Daime ou Culto da União Vegetal e várias outras
seitas. Este ritual está bastante difundido no Brasil (existe nos Estados
do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro, etc.) tendo o seu uso na nossa sociedade
vindo dos índios da América do Sul. No Peru a bebida preparada com as duas
plantas é chamada pelos índios quéchas de Ayahuasca que quer dizer "vinho
da vida". As alucinações produzidas pela bebida são chamadas de mirações
e os guias desta religião procuram "conduzi-las" para dimensões espirituais
da vida. Uma das substâncias sintetizadas pelas plantas é a DMT já comentada
em relação à Jurema.
Efeitos no cérebro - Já foi acentuado
que os cogumelos e as plantas analisadas acima são alucinógenas, isto é,
induzem alucinações e delírios. É interessante ressaltar que estes efeitos
são muito maleáveis, isto é, dependem de várias condições, como sensibilidade
e personalidade do indivíduo, expectativa que a pessoa tem sobre os efeitos,
ambiente, presença de outras pessoas, etc., como a bebida do Santo Daime.
As reações psíquicas são ricas e variáveis. Às vezes são agradáveis ("boa
viagem") e a pessoa se sente recompensada pelos sons incomuns, cores brilhantes
e pelas alucinações. Em outras ocasiões os fenômenos mentais são de natureza
desagradável, visões terrificantes, sensações de deformação do próprio corpo,
certeza de morte iminente, etc. São as "más viagens". Tanto as "boas" como
as "más" viagens podem ser conduzidas pelo ambiente, pelas preocupações
anteriores (o experimentador contumaz sabe quando não está de "cabeça boa"
para tomar o alucinógeno) ou por outra pessoa. Esse é o papel do "guia"
ou "sacerdote" nos vários rituais religiosos folclóricos, que, juntamente
com o ambiente do templo, os cânticos, etc., são capazes de conduzir os
efeitos mentais para o fim desejado.
Efeitos no resto do corpo - Os sintomas
físicos são poucos salientes, pois são alucinógenos primários. Pode aparecer
dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia e náuseas/vômitos, estes
últimos mais comuns com a bebida do Santo Daime.
Aspectos gerais -Como ocorre com quase
todas as substâncias alucinógenas, praticamente não há desenvolvimento de
tolerância; também comumente não induzem dependência e não ocorre síndrome
de abstinência com o cessar de uso. Assim, a repetição do uso dessas substâncias
tem outras causas que não o evitar os sintomas de abstinência. Um dos problemas
preocupantes com o uso desses alucinógenos é a possibilidade, felizmente
rara, da pessoa ser tomada de um delírio persecutório, delírio de grandeza
ou acesso de pânico e, em virtude disto, tomar atitudes prejudiciais a si
e aos outros.
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